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Revolução transforma Etiópia em referência de democracia e igualdade

21/12/2018 23h19

Omer Redi

Adis Abeba, 21 dez (EFE).- A Etiópia, uma das potências da África Subsaariana, viveu em 2018 uma revolução inédita com conquistas como a histórica paz com a Eritreia, uma abertura democrática sem precedentes e a eleição de sua primeira presidente.

Estes avanços no país africano foram impulsionados pela designação do primeiro-ministro Abiy Ahmed, um político reformista de 42 anos cuja nomeação em abril foi recebida com grande otimismo na Etiópia como uma promessa de progresso.

"Nós, os etíopes, necessitamos de democracia e liberdade, e estamos autorizados a tê-las; a democracia não deve ser um conceito estranho", afirmou o jovem e carismático governante em seu discurso de posse.

Sua abertura e reformas lhe renderam comparações com líderes como o sul-africano Nelson Mandela, o americano Barack Obama e o canadense Justin Trudeau, assim como o reconhecimento internacional.

Entre suas conquistas, destacam-se várias anistias a presos políticos, o retorno de diversos grupos de oposição no exílio e a assinatura de um histórico acordo de paz com a Eritreia em 9 de julho que pôs fim a 20 anos de conflito por disputas fronteiriças.

Desde essa data, ambos países vizinhos restabeleceram as conexões telefônicas, os voos diretos e, pela primeira vez em duas décadas, a Eritreia abriu seus portos aos navios etíopes.

A Eritreia se independentizou da Etiópia em 1993, mas as disputas fronteiriças levaram os dois países a uma guerra entre 1998 e 2000 que causou dezenas de milhares de mortos em ambas as partes, e que acabou com o Acordo de Argel assinado em 12 de dezembro de 2000.

A histórica aproximação de Abiy com a Eritreia, depois que a comunidade internacional fracassou nessa tentativa, levou esse país a pôr fim à história de solidão diplomática cheia de sanções internacionais.

"A paz e a reconciliação etíope e eritreia permanecerão como uma lição para todos nós", afirmou Abiy em julho, ao acrescentar que esse sucesso representa "um exemplo para os povos da África e além".

O líder também promoveu uma abertura democrática quase inédita e surpreendeu o mundo em 18 de junho, quando em seu primeiro relatório parlamentar admitiu abertamente que o Governo etíope tinha encarcerado e torturado ilegalmente pessoas, além de cometer atos de "terrorismo".

Sua Administração libertou vários presos políticos e nomeou no final de novembro a histórica líder opositora Birtukan Mideksa, finalista do prêmio Sakharov do Parlamento Europeu, como nova presidente da Junta Nacional Eleitoral.

Birtukan, que tinha retornado ao país duas semanas antes depois de sete anos de exílio nos Estados Unidos, foi escolhida pela maioria, após ser designada por Abiy como candidata.

O primeiro-ministro também apostou firmemente pela paridade de gênero, que cristalizou na nomeação em outubro da diplomata Sahlework Zewde como presidente do país.

Sahlework, que exercia antes o papel de representante especial do secretário-geral da ONU, se tornou a primeira mulher a ocupar a chefia de Estado etíope e a única atualmente no cargo em toda África.

"Necessitamos construir uma sociedade que rejeite a opressão para as mulheres", afirmou Sahlework, após ser escolhida por unanimidade em uma sessão conjunta das duas câmaras do Parlamento.

"Se alguém pensa que falo muito sobre mulheres, que espere para ouvir tudo o que tenho que dizer", advertiu a nova presidente.

Esta decisão aconteceu uma semana depois que Abiy aprovou também uma histórica reforma de seu gabinete na qual reduzia o número de pastas e estabelecia que a metade estivessem ocupadas por mulheres, incluída pela primeira vez uma ministra de Defesa.

Em um novo passo para a igualdade de gênero, o Parlamento etíope elegeu também por unanimidade a veterana advogada feminista Meaza Ashenafi como primeira presidente do Supremo Tribunal Federal, uma decisão que foi igualmente aplaudida em nível internacional.

Estas conquistas colocaram a Etiópia como referência democrática na África, mas também impulsionaram seu perfil de destino turístico líder na região e, segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), oferecem grandes expectativas de crescimento econômico para 2019. EFE