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O rastro sangrento do Estado Islâmico na Europa

22/03/2019 19h37

Marta Garde.

Paris, 22 mar (EFE).- Desde a criação do califado do Estado Islâmico (EI), em junho de 2014, a própria organização jihadista e combatentes que diziam agir em seu nome fizeram da Europa um alvo preferencial, frequentemente invocando o envolvimento de países do continente na coalizão internacional contra o grupo.

A sombra do EI começou a pairar sobre o território europeu em janeiro de 2015, depois que a organização jihadista deu sua aprovação ao ataque cometido em Paris à redação da revista satírica semanal "Charlie Hebdo", que deixou 12 mortos, mas cuja autoria foi reivindicada pelo braço iemenita da Al Qaeda.

Sua assinatura direta chegou em 13 de novembro daquele ano, também na capital francesa, quando três células realizaram atentados simultâneos no Stade de France em Saint-Denis, em diversos cafés e na casa de shows Bataclan, com um saldo de 130 mortos e mais de 300 feridos.

"Que saiba a França e os que seguirem o mesmo caminho que estarão entre os principais alvos do Estado Islâmico e continuarão sentindo o cheiro da morte por terem liderado a 'cruzada' na Síria e no Iraque", disse o EI na época.

Depois, há três anos, foi a vez de Bruxelas, com um duplo atentado que deixou 19 mortos na estação de metrô de Maelbeek e outros 12 no aeroporto de Zaventem, além de cerca de 270 feridos.

Células interconectadas estão por trás de algumas dessas operações planejadas na Síria ou no Iraque, mas os "lobos solitários", a maioria jovens, também têm aderido à luta do EI, cuja ideologia ganhou relevância entre os mesmos em grande parte devido à internet.

"Os europeus frequentemente têm a sensação de que são atacados por serem democratas e amantes da música e do bom vinho, mas os ataques estão diretamente relacionados com o envolvimento militar na crise síria", opinou em declarações à Agência Efe o analista político e islamólogo francês François Burgat.

Embora o EI não tenha reivindicado a autoria do massacre que três terroristas suicidas cometeram no aeroporto Atatürk em Istambul em 28 de junho de 2016, que resultou em 45 mortos e 239 feridos, as autoridades turcas afirmaram que a organização jihadista estava por trás do mesmo.

Pouco depois, em 14 de julho, aconteceu na França outro duro golpe em solo europeu: em plena comemoração da Festa Nacional francesa, um terrorista avançou com um caminhão sobre uma multidão em Nice, no sul do país, matou 86 pessoas e feriu mais de 300.

Com esse mesmo método, no 19 de dezembro de 2016 um tunisiano invadiu um mercado de rua natalino em Berlim, deixando um saldo de 12 mortos e 50 feridos.

Um mercado de rua natalino foi também o cenário de um ataque em Estrasburgo, na França, em 11 de dezembro do ano passado, quando um criminoso reincidente que dizia pertencer ao EI matou cinco pessoas em um tiroteio e também feriu uma dezena.

O rastro de sangue deixado na Europa por essa organização jihadista também se fez presente em outros países, como o Reino Unido e a Espanha.

Em 22 de março de 2017, um homem matou cinco pessoas perto do parlamento britânico. Depois, em 22 de maio, um suicida do EI provocou a morte de 22 pessoas ao detonar uma bomba caseira na Manchester Arena, onde a americana Ariana Grande fazia uma apresentação.

Na Espanha, o EI semeou o terror em 17 de agosto de 2017: 13 pessoas morreram em consequência do atropelamento em massa na Rambla, em Barcelona, provocado por uma célula que também foi responsável por outras duas mortes nas horas subsequentes.

A resposta a essa sucessão de ataques se materializou em um reforço da vigilância antiterrorista, como a operação Sentinelle na França e a Temperer no Reino Unido, que incluíram a presença de soldados nas ruas.

Será que o fim iminente do califado dará início a um período de tranquilidade? Segundo o analista político francês, seria inocência pensar de tal maneira.

"É uma vitória militar que não ofereceu nenhuma solução para a fratura política que essa crise gerou. Nas ruas de Aleppo ou de Mossul, não houve reconstrução do tecido político. Não é uma vitória, mas um episódio de um conflito ao qual não soubemos responder com a inteligência política necessária", disse. EFE