Sri Lanka se inspira nas Filipinas para declarar guerra às drogas
Chathuri Dissanayake.
Colombo, 28 mar (EFE).- Inspirado na sangrenta guerra contra o tráfico de drogas do presidente das Filipinas, Rodrigo Duterte, o presidente do Sri Lanka, Maithripala Sirisena, desenvolve um plano antidrogas que inclui a reinstauração da pena de morte no país, usado por contrabandistas como porta de entrada para o resto da Ásia.
Sirisena decidiu dirigir pessoalmente o que batizou como uma campanha de múltiplos enfoques para combater o tráfico de drogas, e para isso disse que seguirá as doutrinas de Singapura e das Filipinas, esta última entre as mais violentas da história.
O maior passo de todos foi pôr fim à moratória de quatro décadas sobre a pena de morte para criminosos reincidentes em casos que envolvam tráfico de drogas, o que deu início a um grande processo de seleção de aplicadores da pena.
Dos 102 candidatos escolhidos, o Departamento de Administração Penitenciária deve entrevistar 79 em abril.
"Sirisena estudou com atenção os sistemas das Filipinas e de Singapura. Recebeu relatórios das equipes que trataram do assunto nesses países e passou o conhecimento para gente", disse à Agência Efe o diretor do Grupo de Trabalho para a Prevenção de Drogas do Sri Lanka, Samantha Kumara Kithalawaarachchi.
Com mais de 30 instituições sob o comando do presidente, o Grupo de Trabalho para a Prevenção de Drogas tem como objetivo reduzir a oferta e a demanda de entorpecentes.
"O presidente, como chefe da unidade, toma todas as decisões e o grupo de trabalho faz a coordenação entre as instituições competentes para a prevenção das drogas", explicou.
O modelo incluirá uma modificação da legislação vigente para permitir a participação dos militares nas investigações e operações feitas pelo Escritório Policial de Entorpecentes (PNB), já que até agora as tropas só podiam atuar em situações de estado de emergência.
A guerra que Sirisena planeja acontece no momento no qual o país se transformou em rota segura para os traficantes. De acordo com o PNB, a unidade responsável por investigações e operações sobre o tráfico de drogas, os traficantes usam pescadores para transportar mercadorias.
"Eles passam as mercadorias para os pescadores em pequenos barcos em alto-mar para evitar serem descobertos", detalhou.
A atuação dos grupos de combate às drogas, no entanto, é limitada apenas à destruição das cargas encontradas, já que a jurisdição para a aplicação da lei se restringe somente ao trecho de mar que pertence ao Sri Lanka.
De acordo com o departamento, a heroína que entra na ilha tem origem no Paquistão, em Bangladesh e no Afeganistão e é destinada ao consumo local. A cocaína, por sua vez, é mais cara, e vem principalmente do Brasil para ser reexportada.
"Os botes passam facilmente sem ser detectados", reconheceu à Efe T.C.A. Dhanapala, diretor da Superintendência de Polícia (SSP).
Esse é um dos motivos pelos quais as forças de segurança do Sri Lanka apreendem quase sempre quantidades muito pequenas de entorpecentes em terra firma, muito abaixo dos níveis alarmantes que as autoridades denunciam.
No ano passado, por exemplo, as autoridades do Sri Lanka apreenderam 21 quilos de cocaína (embora só em dezembro de 2016 tenham sido 800 quilos), 575 quilos de maconha (uma quantidade muito inferior aos 1.470 quilos apreendidos neste ano) e 731 quilos de heroína.
De acordo com Dhanapala, o PNB está investigando as redes criminosas de Bangladesh depois da prisão, em fevereiro, de dois traficantes com 294 quilos de heroína, a maior carga da droga já apreendida na história do país.
"O Sri Lanka é conhecido como um local de baixo risco, muitos contêineres não são percebidos. Eles vêm especialmente junto com cargas de açúcar", esclareceu.
Ele, porém, se antecipou às críticas que o modelo recebeu nas Filipinas e garantiu que o Sri Lanka "não implementará as regulamentações excessivamente rígidas" utilizadas por Duterte, mesmo que o sucesso do filipino tenha sido bem visto pelo governo de Sirisena.
"Aconteceram muitas mortes nas Filipinas, mortes de parlamentares e inclusive de consumidores. Não podemos fazer o mesmo. Há graves problemas de direitos humanos envolvidos", ressaltou. EFE
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