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Portugal luta para controlar incêndio, enquanto aumentam críticas ao governo

22/07/2019 12h16

Carlos García.

Arganil (Portugal), 22 jul (EFE).- O pesadelo se repete em Portugal e mais de mil soldados trabalham contra o relógio para extinguir o incêndio que castiga o centro do país, diante da ameaça de uma mudança no vento, enquanto aumentam as críticas ao governo pela gestão dos recursos utilizados.

O incêndio está 90% controlado, embora o perigo esteja nas rajadas de vento e nas altas temperaturas previstas para esta tarde, explicou nesta segunda-feira o comandante que coordena os trabalhos de extinção, Pedro Nunes.

Nunes destacou que foram mobilizados meios humanos, terrestres e aéreos para sufocar o incêndio que começou no sábado no centro do país, já deixou 30 feridos e ameaça especialmente a área de Castelo Branco.

Essa abordagem, no entanto, não é compartilhada pelos prefeitos das cidades afetadas.

"O Estado voltou a falhar", chegou a dizer o prefeito de Vila de Rei, Ricardo Aires, aos meios de comunicação locais, quando o fogo avançava sobre o município. Pouco depois, mais calmo, explicou à Agência Efe que não queria dizer que o Estado tinha falhado, mas que "os meios de combate e prevenção não eram suficientes".

"O fogo tem que ser atacado imediatamente e no início e os meios utilizados não foram os melhores", especificou.

Além de Aires, o prefeito de Mação, Vasco Estrela, evitou entrar na polêmica sobre o papel do Estado porque "é um pouco cedo para falar disso, mas ressaltou que os meios usados não foram capazes de resolver a situação criada".

"Os meios são sempre escassos e é discutível a forma como são colocados no terreno. É preciso perguntar a quem manda, ao governo, que disse que tinha os meios suficientes", acrescentou.

A área, próxima a Pedrógão Grande, onde nos incêndios de 2017 morreram mais de 60 pessoas, foi a mais castigada pelas chamas desde sábado, com mais de seis mil hectares arrasados.

Os moradores de Mação não podem respirar aliviados ainda. Duas gigantescas colunas de fogo marcam as frentes descontroladas de Vergão e Casais de São Bento, em zonas de difícil acesso.

A poucos quilômetros, em São João da Madeira, a situação está se normalizando, mas o bombeiro João Lima admitiu que "a noite foi muito dura" porque o incêndio "foi muito complicado".

Na aldeia de Arganil, os moradores relataram que estiveram "rodeados pelas chamas" durante a noite.

O centro urbano "parecia uma ilha entre as chamas", relatou à Agência Efe Jorge, um morador desta cidade, que criticou a lentidão na reação dos bombeiros e das outras autoridades.

"Desde que começaram as chamas até que ardeu tudo, não houve ninguém, não apareceu um policial ou um bombeiro", assegurou. "Só quando já estava tudo meio controlado, apareceram soldados da Proteção Civil de Mação, com o prefeito que ajudou na extinção".

Os moradores de Arganil fizeram "todo o possível, com mangueiras, para que o fogo não chegasse às casas, embora duas casas velhas tenham sido atingidas", completou o morador.

Muito perto dali, em Roda, os bombeiros utilizaram maquinaria pesada para marcar um perímetro de proteção que evitou a extensão das chamas.

Desde que o incêndio foi declarado no sábado, o fogo avançou mais de 25 quilômetros e cerca de 40 municípios estão ainda em risco máximo de incêndio.

Dos mais de 30 feridos registrados durante o fim de semana, só um está em estado grave, em coma induzido, pelas ferimentos sofridos quando tentava salvar um trator das chamas.

Em função das previsões meteorológicas, a linha de fogo pode ser reativada com o forte vento anunciado para esta tarde na comarca de Mação, em direção às vilas de Chaveira, Chaveirinha e Vergão, segundo detalhou a Proteção Civil de Portugal. EFE