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Ex-diretor diz que Odebrecht financiou campanhas de García, Humala e Keiko

02/10/2019 22h01

Lima, 2 out (EFE).- Ex-diretor-executivo da Odebrecht no Peru, Jorge Barata identificou nesta quarta-feira nomes de políticos peruanos que constavam em uma planilha do departamento de Operações Estruturadas da construtora brasileira, setor usado para o pagamento de propinas no Brasil e no exterior.

Segundo o jornal peruano "El Comércio", que cita fontes com conhecimento do depoimento de Barata prestado hoje a procuradores do país em Curitiba, o ex-diretor afirmou que entre os políticos que receberam propina para financiar suas campanhas estão os ex-presidentes Alan García e Ollanta Humala. Outra citada é Keiko Fujimori, principal liderança da oposição.

O dinheiro destinado a Keiko e Humala, que disputaram as eleições presidenciais de 2011, ganhou o codinome "Campanha Nacional" em uma das planilhas do departamento de Operações Estruturadas da Odebrecht, segundo o jornal "El Comércio". Já Alan García foi identificado como "Apra", a sigla de seu partido, o Aliança Popular Revolucionária Americana.

García se suicidou em abril deste ano, pouco antes de ser preso por acusações de corrupção. Humala e sua esposa, Nadine Herédia, chegaram a ser detidos preventivamente por envolvimento com a Lava Jato, mas deixaram a cadeia em maio deste ano. Já Keiko segue presa após a denúncia de que recebeu propinas da Odebrecht em 2011, acusação reforçada hoje com o depoimento de Barata.

Além dos três, o ex-diretor da Odebrecht confirmou hoje que fez pagamentos ao também ex-presidente Alejandro Toledo, que está preso nos Estados Unidos enquanto aguarda um julgamento para ser extraditado ao Peru, e a dois ex-primeiros-ministros do segundo governo de García, Yehude Simon e Javier Velásquez Quesquén.

Segundo o portal "IDL-Reporteros", Simon teria ganhado o codinome "Oriente" na planilha da empresa e recebido mais de US$ 30 milhões da Odebrecht. O dinheiro, porém, teria Toledo como destinatário final.

O depoimento terminou sem que Barata desse todas as informações que os promotores peruanos queriam receber hoje. Segundo Rafael Vela, líder da equipe do Ministério Público do Peru que investiga a Lava Jato no país, o interrogatório teve que ser suspenso por "dificuldades logísticas".

"Houve entrega de informação parcial e amanhã retomaremos (sem Barata) com a presença do procurador federal (do Brasil) Orlando Martello", disse Vela.

Já o advogado de Barata, Carlos Kauffmann, explicou que não houve "condições materiais" de buscar novas informações em razão das "dificuldades financeiras da empresa" para permitir acesso a um sistema de dados que está sob custódia do Ministério Público.

"Precisamos de condições e auxílio material para poder trazer a Curitiba novas informações", disse Kauffmann.

No último dia 16 de fevereiro, os promotores peruanos assinaram um acordo com a Odebrecht em São Paulo. A empresa se comprometeu a entregar documentos "valiosos" ao Ministério Público do Peru e a pagar 610 milhões de sóis peruanos (US$ 185 milhões) ao governo do país como reparação.

Segundo os promotores, Barata se comprometeu a colaborar, apesar da situação complexa vivida no Peru. O Congresso foi dissolvido pelo presidente do país, Martín Vizcarra, e os legisladores responderam com a destituição temporária do chefe de governo por "incapacidade moral".

Entre os vários dos 71 codinomes ainda não identificados, suspeita-se que esteja o de vários parlamentares do Congresso dissolvido, inclusive o de alguns que tentaram sair do país nas últimas horas. EFE