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Mercosul manifesta desejos de acordo com UE para 2021 e de adesão da Bolívia

Bandeira do Mercosul - Getty Images/iStockphoto
Bandeira do Mercosul Imagem: Getty Images/iStockphoto

16/12/2020 03h35

Santiago Carbone e Federico Anfitti, Montevidéu, 15 dez (EFE).- A ratificação do acordo com a União Europeia (UE) durante a celebração, em 2021, dos 30 anos do Mercosul e o desejo de uma futura adesão da Bolívia protagonizaram nesta terça-feira o início da cúpula do bloco sul-americano, na qual o Uruguai cederá à Argentina a presidência rotativa.

A LVII Reunião Ordinária do Conselho do Mercado Comum do Sul foi realizada de forma virtual, como aconteceu também há seis meses, devido à pandemia de covid-19, que marcou em 2020 o curso social e econômico de Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai.

Os ministros das Relações Exteriores dos quatro países membros debateram ainda uma possível reunião presencial em março de 2021, três décadas após a assinatura do Tratado de Assunção, com o objetivo de aprofundar ainda mais a integração do bloco.

"COMPROMISSO" DA UE.

Durante seu discurso, o ministro das Relações Exteriores do Uruguai, Francisco Bustillo, disse que o Mercosul tem "o compromisso" da UE de ratificar o acordo entre os dois blocos, com os europeus aceitando elaborar um "texto bidirecional" com deveres recíprocos para o cuidado com o meio ambiente.

Após uma viagem de duas semanas à Europa, onde ele teve reuniões com importantes líderes internacionais, Bustillo disse nesta terça-feira que estava "calmo" porque estava "mais próximo" do objetivo do acordo.

"Nós atingimos esse compromisso. O vice-presidente da Comissão Europeia, Valdis Dombrovskis, deu instruções específicas e concretas a seu principal negociador para buscar uma rápida conclusão de todas as questões pendentes", afirmou.

Bustillo também declarou que o bloco sul-americano rejeita qualquer tipo de intenção europeia que implique que o cuidado com o meio ambiente e as sanções devem se concentrar somente no Mercosul, mas sim ambas as partes.

Neste sentido, o Brasil, país que mais críticas acumula dos parceiros europeus, mostrou seu "compromisso com o meio ambiente e o desenvolvimento sustentável", nas palavras do chanceler Ernesto Araújo.

Vários países europeus expressaram nos últimos meses críticas ao governo de Jair Bolsonaro em relação a sua política ambiental, o que os membros do Mercosul interpretaram como uma desculpa para não ratificar o acordo.

Neste sentido, Bustillo frisou que durante sua recente viagem à Europa insistiu em relação à "necessidade" de encerrar as questões pendentes para a ratificação do acordo, e em cada reunião - que incluiu autoridades de França, Alemanha e da própria UE - as preocupações ambientais foram abordadas.

"Em termos de cuidado ambiental, em muitos aspectos nossos países apresentam padrões muito mais elevados do que os de muitos países da União Europeia", comentou.

Embora o Uruguai não tenha atingido seu objetivo de conseguir a ratificação do acordo durante sua presidência rotativa do Mercosul, os participantes do encontro virtual de hoje mostraram otimismo de que ele será concluído com sucesso até 2021.

"REVITALIZAR" O MERCOSUL.

Felipe Solá, ministro das Relações Exteriores da Argentina, que ocupará a presidência rotativa do Mercosul nos próximos seis meses, disse que durante esse período seu país propõe "revitalizar" o bloco, além de "fortalecer" o processo de adesão da Bolívia.

A um dia da posse da Argentina, o ministro enfatizou que o país "fará o máximo" para fortalecer as negociações estrangeiras e tentar revitalizar o bloco, levando "a velha doutrina" e atualizando "as ideias e a realidade" para o mundo de hoje.

Além disso, ele garantiu que a Argentina vai propor questões que o Brasil poderá continuar durante seu mandato temporário, a partir de julho de 2021.

Já o ministro das Relações Exteriores do Paraguai, Federico González, mostrou compromisso com o "roteiro" elaborado há 30 anos e incentivou "a continuação do trabalho para otimizar as estruturas do Mercosul e fortalecer os órgãos com seus próprios orçamentos".

A situação da Bolívia, um país associado ao bloco e buscando a integração, foi outra das questões analisadas durante a conferência.

"Vamos fortalecer o processo de adesão da Bolívia, que hoje é um Estado associado, mas requer mais um passo para se tornar membro do Mercosul, e é um desejo muito especial da Argentina, compartilhado pela maioria", enfatizou Solá.

"NÃO SE ESCUTA".

Rogelio Mayta, chanceler da Bolívia, protagonizou a curiosidade do dia. Quando começou seu discurso, o microfone não funcionou, e nenhuma de suas palavras foi transmitida.

O chefe da diplomacia uruguaia, que era o mestre de cerimônias, mostrou de sua tela uma placa escrita à mão com a mensagem "NÃO SE ESCUTA" para que o boliviano fizesse os ajustes necessários.

Uma vez retomada a comunicação, Mayta disse que é "um processo natural" integrar seu país ao Mercosul e que a Bolívia tem "uma agenda" que poderá cumprir em breve.

A Cúpula do Mercosul, que também teve a participação de representantes dos outros Estados associados (Chile, Peru, Equador, Suriname, Colômbia e Guiana), continuará nesta quarta-feira com a reunião dos presidentes, na qual o uruguaio Luis Lacalle Pou entregará ao argentino Alberto Fernández a presidência rotativa do bloco.