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América Central tem quase 30 milhões de pobres em insegurança alimentar

Homem com fome segura prato de comida vazio - Getty Images/iStockphoto
Homem com fome segura prato de comida vazio Imagem: Getty Images/iStockphoto

EFE

30/04/2021 01h10

Cerca de 30 milhões de pessoas são pobres na América Central, das quais 80% estão concentradas no Triângulo Norte, uma região que requer assistência internacional para enfrentar a pandemia e os efeitos da crise climática, que ameaçam privar milhares delas de sua segurança alimentar.

"Na América Central, com cerca de 48,5 milhões de habitantes, mais da metade da população está na pobreza, ou seja, quase 30 milhões de pessoas", afirmou o economista sênior do Instituto Centro-Americano de Estudos Fiscais (ICEFI), Ricardo Castaneda, à Agência Efe nesta quinta-feira.

O economista detalhou que 80% dos pobres vivem em El Salvador, Guatemala e Honduras, países que compõem o Triângulo Norte da América Central, uma das regiões mais desiguais e vulneráveis à crise climática.

As consequências da pandemia e da mudança climática empurraram 2 milhões de pessoas para a pobreza no subcontinente, segundo o especialista da Icefi, agência independente sediada na Guatemala. A crise social causada pelo coronavírus e os fenômenos climáticos levaram a um aumento da desigualdade, mas também da fome na região, acrescentou Castaneda.

TORMENTA PERFEITA.

Na opinião do especialista, a América Central está longe de controlar a pandemia, e por isso há muita incerteza sobre a recuperação econômica da região diante de possíveis novas medidas de confinamento, que poderiam limitar as atividades comerciais.

Mais de 1,3 milhão de pessoas infectadas, uma contração econômica e uma crise política e social são o resultado de uma série de problemas que vêm assolando a América Central há mais de um ano, quando os primeiros casos de Covid-19 foram confirmados.

"A região está passando por uma espécie de tempestade perfeita. Há uma crise sanitária, econômica e social, mas também uma crise ambiental e política", analisou o economista, que acredita que as expectativas para 2021 são melhores do que as para 2020, mas ainda há muita incerteza.

O impacto geral da pandemia até agora não foi totalmente quantificado, mas Castaneda prevê que muitas pessoas terão problemas de acesso a alimentos, de modo que sofrerão com a insegurança alimentar. "A fome que persegue milhões de centro-americanos é o retrato mais concreto de como a crise tem sido grave", destacou.

POBRES SÃO OS MAIS AFETADOS.

A crise climática fez com que as comunidades mais vulneráveis da América Central ficassem mais pobres e mais famintas e considerassem a migração como sua única opção, advertiu o especialista.

"As pessoas mais pobres são as que sofrem a pior situação e pagam a conta pelo impacto do aquecimento global e perdem a garantia de direitos em termos de alimentação, saúde e moradia", denunciou.

Cataneda alertou que o futuro pode ser muito desestimulante se os governos não impulsionarem políticas que visem criar melhores empregos, reduzir a pobreza e a desigualdade, melhorar a educação e a saúde, mas também enfrentar a crise climática.

O diretor da Visão Mundial Honduras, Jorge Galeano, concordou com Castaneda, salientando que a pandemia e o aquecimento global estão atingindo a todos, mas de maneira desigual.

"Muitos países da América Central tinham muitas fraquezas (antes da pandemia), e esta crise nos atingiu muito duramente. Os que mais sofrem são os mais vulneráveis e os que têm menos", lamentou Galeano à Efe.

A alta incidência da Covid-19 e a falta de apoio às famílias mais pobres ameaçam gerar forte instabilidade social nesses países e ondas de migração, segundo Galeano, que pediu para os governos concentrarem seus esforços no cuidado com a população de baixa renda.

APOIO INTERNACIONAL.

A América Central sozinha não consegue enfrentar a magnitude desta crise, e por isso os países necessitam de assistência internacional, disse o diretor da Visão Mundial Honduras.

"A comunidade internacional deve apoiar os países mais vulneráveis", enfatizou, lembrando que as crianças e os idosos são os mais vulneráveis aos fenômenos naturais e relacionados à pandemia.

Galeano e Castaneda também concordaram que as crianças são também as mais afetadas pelo fechamento de escolas ligadas, uma situação também ligada à Covid-19 e que poderia afetar o desenvolvimento dos países.

Os governos devem prestar atenção especial ao acesso à educação e ao sistema de proteção à criança em meio à crise, disseram os especialistas.