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Migrantes vivem com medo em Tijuana diante de uma violência imparável

30/09/2021 02h50

Carlos Zúñiga.

Tijuana (México), 29 set (EFE).- Em plena crise e sem um panorama esperançoso no curto prazo, os migrantes que estão retidos há meses na cidade de Tijuana também lidam com outra preocupação: a crescente violência nesta fronteira mexicana.

O estado de Baja California registrou mais de 2.300 vítimas do crime organizado neste ano. Quase 1.500 desses casos ocorreram em Tijuana e apenas 128 são de setembro, de acordo com dados da Procuradoria-Geral do Estado.

No meio desta situação estão os migrantes que vivem no abrigo de Agape, no bairro de Nueva Aurora, que na mesma semana viveram dois confrontos armados entre a polícia e criminosos.

Em 14 de setembro, o primeiro confronto ocorreu após agentes da Polícia Municipal terem perseguido dois homens armados até o cemitério ao lado do abrigo dos migrantes. Um deles foi preso.

Na quinta-feira passada, um grupo armado emboscou dois agentes no mesmo local e houve um tiroteio com as forças de segurança. Dois dos supostos criminosos morreram no incidente, o que colocou migrantes e ativistas em alerta.

MEDO CRESCENTE.

Janeth Valdovinos, uma migrante de Michoacán, disse à Agência Efe nesta quarta-feira que, assim que ouviu os tiros, foi procurar os filhos para protegê-los.

"A gente se jogou no chão. Chorávamos com as crianças e dava para ouvir como as pessoas choravam e gritavam. Tinha uma criança ajoelhada, rezando", recorda a mulher sobre o que aconteceu há quase uma semana.

Para Janeth, uma mãe solteira, a situação em Tijuana é muito infeliz porque "as pessoas fogem devido à violência", mas não encontram "segurança" no novo lugar.

AUTORIDADES MINIMIZAM.

Enquanto esta situação de violência preocupa os residentes e os migrantes, as autoridades minimizam a questão. Questionado sobre uma mensagem recente atribuída ao crime organizado que o ameaçava, o governador do estado, Jaime Bonilla, disse que "cão que ladra, não morde".

Pedro Cruz Camarena, chefe da Secretaria de Segurança e Proteção dos Cidadãos de Tijuana, insistiu à imprensa que os índices de violência em Tijuana estão em queda em comparação com outros anos.

Isto apesar de, no início deste mês, uma menina de 11 anos ter morrido em um tiroteio enquanto estava em um shopping prestes a entrar no cinema.

A violência surge em um momento em que a região vive uma onda de migração sem precedentes desde o início do ano, com um recorde de 147 mil migrantes indocumentados detectados no México de janeiro a agosto, triplicando o número em 2020, e um recorde de 212 mil migrantes detidos só em julho pela Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA.

Nas últimas semanas, a situação se agravou na fronteira norte do México com a chegada de milhares de haitianos a vários pontos como Ciudad Acuña, no estado de Coahuila, de onde atravessaram para os Estados Unidos e foram deportados.

Ou em Reynosa, onde centenas de migrantes dormem em acampamentos improvisados nesta cidade no estado de Tamaulipas, região onde os confrontos com o crime organizado são habituais.