Topo

Esse conteúdo é antigo

"Desnazificação" de Putin empurra para o exílio as minorias da Ucrânia

08/03/2022 22h48

Marcel Gascón.

Siret (fronteira da Romênia com a Ucrânia), 8 mar (EFE).- Uma das razões esgrimidas pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, para invadir a Ucrânia foi a necessidade de libertar o país do jugo de um governo supostamente ultranacionalista e fascista.

No entanto, a ofensiva militar russa contra a Ucrânia está afetando milhões de vidas também entre minorias étnicas, religiosas e linguísticas que, em teoria, deveriam se beneficiar de uma guerra que o Kremlin está vendendo como uma operação de "desnazificação".

Milhares de ucranianos de origem judaica, tártara, romena, búlgara e até russa cruzam a fronteira romena todos os dias fugindo das bombas e mísseis que as tropas de Putin lançam contra as cidades ucranianas em nome da libertação dessas minorias.

"O que os russos estão fazendo é pior que o fascismo", disse à Agência Efe Viktoriia Klymenko, chefe do Departamento de Pediatria da Universidade Nacional de Medicina de Kharkiv, enquanto fazia fila para entrar em território romeno.

Kharkiv é uma cidade localizada no leste da Ucrânia, onde mais da metade da população se identifica como russa. Seu principal hospital foi bombardeado pelo exército russo.

REFÚGIO EM ISRAEL.

Além de cidadãos ucranianos de áreas predominantemente de língua russa, como Kharkiv e Odessa, um fluxo constante de judeus de toda a Ucrânia também chega à fronteira romena.

Alguns também têm nacionalidade israelense, o que lhes permite cruzar a fronteira mesmo que sejam homens em idade de lutar.

"De Bucareste, viajaremos para Israel e depois decidiremos o que fazer", declarou à Efe Dmytro, jovem de 28 anos de Kropyvnytskyi, cidade no sudoeste da Ucrânia, que chegou à Romênia com seu irmão Serguey e outros parentes, alguns deles menores de idade.

A invasão russa da Ucrânia acabou levando milhares de pessoas a considerarem começar uma nova vida em Israel, acelerando seus planos de fazer "aliá", o nome hebraico para a imigração de judeus da diáspora para o Estado judeu.

"Eu tinha planejado fazer aliá no ano que vem; sempre quis morar em Israel com minha família, mas não nestas circunstâncias", disse Rina Dunko à Efe em frente à tenda do Comitê Judaico-Americano de Distribuição Conjunta (JDC) que recebe refugiados judeus e não judeus em sua entrada na Romênia.

MAIS DE 4.000 ISRAELENSES.

Natural da cidade de Kamianske, às margens do rio Dniepre, Dunko é estudante de engenharia da computação e está viajando com sua mãe, sua irmã, dois sobrinhos e dois gatos.

Ao lado de Dunko, dezenas de mulheres, crianças e idosos ucranianos de origem judaica aplaudem animadamente quando o representante do JDC para a Romênia, Israel Sabag, os recebe em hebraico, russo e ucraniano.

"Desde que a guerra começou, cerca de 4.000 israelenses cruzaram as fronteiras entre a Ucrânia e a Romênia", relatou à Efe David Saranga, embaixador de Israel em Bucareste, que viajou até a fronteira para supervisionar a saída de refugiados.

"Em Bucareste, onde chega a maioria dos judeus que querem emigrar para Israel, há atualmente entre 300 e 400 pessoas", acrescentou Saranga.

O diplomata receberá nesta terça-feira um micro-ônibus na fronteira com um adolescente e dez crianças ucranianas que sofrem de câncer e outras doenças graves e que conseguiram fugir de Kiev com seus pais.

Da fronteira, eles serão levados de avião particular para Israel, onde serão tratados no Centro Pediátrico Schneider em Petah Tikva, perto de Tel Aviv.

ROMENOS, BÚLGAROS.

Além dos israelenses, também centenas de ucranianos de origem romena passam diariamente para o outro lado da fronteira, onde muitos esperam nas casas de parentes que os ataques russos contra a Ucrânia cessem.

Para mais longe precisam viajar os ucranianos de origem búlgara, que são recebidos na fronteira por militares de Sofia para organizar sua transferência.

"A maioria dos passageiros são os chamados bessarábios búlgaros", comentou um desses soldados à Agência Efe.

...E TÁRTAROS TURCOS.

Entre os estandes que ladeiam a estrada pela qual se entra na Romênia a partir da Ucrânia, destaca-se a bandeira vermelha com a estrela e a meia lua da Turquia.

O governo turco anunciou na segunda-feira que já repatriou cerca de 12.000 cidadãos que viviam na Ucrânia.

Ancara também ajuda cidadãos de repúblicas turcas como Azerbaijão, Cazaquistão, Quirguistão e Uzbequistão a chegarem à Turquia.

Além disso, centenas de mulheres, crianças e idosos ucranianos de origem tártara passam por essas fronteiras, segundo afirmaram à Agência Efe trabalhadores da AFAD, a agência turca de gerenciamento de emergências.

Milhares de tártaros ucranianos fugiram da península da Crimeia para outras partes da Ucrânia quando a Rússia anexou o território em 2014.

Agora, a invasão russa em grande escala da Ucrânia está forçando-os a fugir das cidades onde encontraram refúgio há oito anos. EFE