Surgida em fundos de quintal, Ciranda do Nordeste vira patrimônio do Brasil
O Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) reconheceu a Ciranda do Nordeste como Patrimônio Cultural do Brasil. A manifestação cultural torna-se a 50º inscrita no Livro de Registro das Formas de Expressão do órgão.
A decisão foi unânime e anunciada nesta terça (31), durante a 97ª reunião do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, órgão colegiado composto por representantes de instituições públicas e privadas, bem como por representantes da sociedade civil.
A solicitação de registro da Ciranda do Nordeste foi apresentada pela Secretaria de Cultura do Governo do Estado de Pernambuco em 2014. O reconhecimento como patrimônio é um passo considerado importante por colocar a expressão cultural no radar do Estado para desenvolver estratégias de preservação das tradições por meio de políticas públicas.
Ao UOL, Hamilton Santos, vice-presidente da Associação de Cirandas de Pernambuco, entidade que agrega 35 grupos, expressou a satisfação com a decisão.
"Tivemos a contribuição de pessoas que por anos se dedicaram a manter vivas as cirandas"
Hamilton Santos, vice-presidente da Associação de Cirandas de Pernambuco
A presidente do Iphan, Larissa Peixoto, reforçou a importância do reconhecimento para a memória, identidade e grupos formadores da sociedade brasileira. "Os saberes, modos de fazer e valores dessa expressão coletiva estão sendo constantemente reiterados, transformados e atualizados, o que constitui uma tradição vital enquanto canal de expressão e fortalecimento de laços de pertencimento", disse, em nota ao UOL.
Expressão cultural
A Ciranda do Nordeste é uma manifestação cultural que une música e poesia para embalar uma dança de roda. Ela possui singularidades estéticas, poéticas e musicais que a diferenciam de outras modalidades de cirandas praticadas no Brasil.
Além disso, ela tem diferenças dependendo da região que é praticada: mais lenta na zona da mata pernambucana e mais rápida no Recife, por exemplo.
"A ciranda vem da cultura popular, feita, majoritariamente, por pessoas negras. Começou em fundos de quintal, promovida com luz de candeeiro, mestre no centro da roda, cantigas e rimas. A manifestação foi levada para os clubes sociais, para as ruas e passou a integrar o calendário de festas"
Hamilton Santos, vice-presidente da Associação de Cirandas de Pernambuco
Além de Pernambuco, a Ciranda do Nordeste é encontrada em estados como Alagoas e Paraíba.
A roda pode acontecer em diferentes contextos, como carnaval, encerramento de uma atividade pedagógica ou em festejos juninos, seja em espaços abertos, como praças e ruas, ou fechados, como bares.
Entre as referências da manifestação estão Lia de Itamaracá, considerada a rainha da ciranda, mestre Santino, de 90 anos, e mestre Antônio Baracho, um dos ícones da cultura popular pernambucana.
A cidade de Abreu e Lima (PE), a 19 km de Recife, celebra em 10 de maio o Dia Municipal da Ciranda. A data lembra o dia do nascimento de Mestre Baracho, ícone da ciranda morto em 1988 aos 81 anos.
Os versos "Ó cirandeir / cirandeiro ó/ a pedra do seu anel/ brilha mais do que o sol/", que foram utilizados na música Cirandeiro, de Edu Lobo e Capinam, são atribuídas a Baracho, mas ele não foi citado como autor.
Frevo revalidado
Durante a reunião, o Conselho Consultivo do Iphan decidiu também sobre a revalidação do Frevo (PE), do Tambor de Crioula do Maranhão (MA) e o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras (ES), que passam a figurar na lista por mais dez anos.
A revalidação tem como finalidade investigar sobre a atual situação do bem cultural, além de levantar informações, averiguar a efetividade das ações de salvaguarda, verificar mudanças nos sentidos e significados atribuídos ao bem imaterial.
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