Topo

Leilão de linhas de energia deve negociar mais lotes na sexta-feira

26/10/2016 12h12

Por Luciano Costa

SÃO PAULO (Reuters) - O leilão para a concessão de linhas de transmissão de energia que será realizado pelo governo federal na próxima sexta-feira deverá ter resultado melhor que as últimas licitações do setor, nas quais cerca de metade dos empreendimentos ofertados não atraiu investidores.

A expectativa entre especialistas ouvidos pela Reuters é de que mais lotes sejam arrematados, inclusive com disputa entre empresas, embora linhas vistas como mais complexas por questões ambientais ou fundiárias ainda possam ficar sem proposta.

O maior interesse é fruto de dois aumentos consecutivos nas receitas dos projetos que serão ofertados, em uma tentativa da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de evitar mais um certame marcado por mais lotes vazios que por propostas de investidores.

"Tenho uma visão mais otimista, pelo menos em termos do que já foi. Não apostaria que tudo vai ser arrematado, mas acredito que a gente vai ter no final do dia um resultado melhor", afirmou o sócio da consultoria Andrade & Canellas, André Crisafulli.

O leilão envolverá 24 lotes, que para serem construídos demandarão aproximadamente 12,58 bilhões de reais em investimentos, segundo a Aneel.

A indústria fornecedora de equipamentos também tem sentido esse interesse maior pelo certame, afirmou o diretor para a área de energia da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Newton Duarte.

"É fato que está havendo uma enorme movimentação, as indústrias estão muito atuantes... tem empresas avaliando uma dezenas de lotes ou mais... elas estão altamente envolvidas e trabalhando fortemente, a gente vê boas perspectivas de que haja não só grande participação, mas de que a maioria dos lotes saia", disse.

LIMITANTES

Por outro lado, o receio de que não haverá participantes suficientes para todos lotes deve-se principalmente à conjuntura econômica do país, que ainda apresenta condições muito limitadas de financiamento.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), por exemplo, vai oferecer empréstimos a custo de mercado para os participantes da licitação, e não mais pela Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP).

Além disso, a estatal Eletrobras já avisou que não deverá participar do leilão, enquanto prioriza colocar no prazo uma série de obras atrasadas de suas subsidiárias.

"Tem lotes que estão na região Norte, ou no Sudeste, em áreas mais densamente povoadas... querendo ou não fica difícil trabalhar... esses talvez pudessem estar mais vocacionados para a Eletrobras", afirmou Crisafulli, da Andrade & Canellas.

Ainda assim, o diretor-geral da Aneel, Romeu Rufino, mostrou otimismo com o certame, ao dizer recentemente que há inscritos para todos os lotes. A agência espera ter investidores para todos projetos, inclusive com competição em alguns deles.

NOVOS AGENTES

Os especialistas também acreditam que a forte elevação das receitas ampliará um movimento já visto na última licitação, em abril, quando a disputa pelas linhas de energia atraiu empresas que não são investidores tradicionais em concessões, como fornecedores de equipamentos e serviços e fundos de investimento.

Uma fonte com conhecimento do assunto disse que o fundo Pátria, que arrematou um lote no último certame, em abril, pretende participar novamente da disputa, com o objetivo de arrematar mais um lote, de grande porte.

A mesma fonte afirmou que há intensa movimentação de fundos e empresas de fora do setor de olho na maior atratividade, que deve ser momentânea.

"Vai ter muito mais concorrência. O mercado sabe que essas condições não vão ficar aí por muito tempo", disse a fonte, sob a condição de anonimato.

Recentemente, a Reuters publicou que as mudanças nos leilões de transmissão começaram a atrair o interesse de empresas como a EDP Brasil e a canadense Brookfield, além de outras companhias que não vinham atuando no segmento.