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Tragédia aérea da Chapecoense destrói sonho de time que virou exemplo de sucesso

29/11/2016 09h41

Por Pedro Fonseca

(Reuters) - Da quarta divisão à elite do futebol brasileiro em apenas seis anos, a Chapecoense se tornou um símbolo de boa administração que se destacou em meio aos criticados dirigentes do futebol brasileiro, até ter sua trajetória de sucesso interrompida a um passo da glória por um acidente aéreo que dizimou o time.

Fundada em 1973 na cidade de Chapecó, no interior de Santa Catarina, e principal símbolo do município agropecuário de cerca de 200 mil habitantes, a Chapecoense viajava para disputar a primeira final internacional da sua história quando caiu o avião que transportava o time na noite de segunda-feira na Colômbia, matando 71 das 77 pessoas a bordo.

Quatro jogadores do time foram resgatados pelas autoridades com vida, os goleiros Danilo Padilha e Jackson Follmann, o lateral Alan Ruschel e o zagueiro Neto, mas Danilo não resistiu aos ferimentos e morreu posteriormente.

Entre os destaques do clube estavam o meio-campista Cléber Santana, ex-jogador do Atlético de Madri, e o técnico Caio Júnior, com passagem por diversos clubes do futebol brasileiro e também do exterior.

"É muito triste a notícia que recebemos hoje de manhã. Jamais iríamos esperar.... É uma notícia que não existe. Até agora não caiu a ficha", disse o vice-presidente da Chapecoense, Ivan Tozzo, em entrevista à TV com os olhos marejados, dentro da Arena Condá, estádio da Chapecoense que era uma das forças do time.

"É complicada a dor. Eu que estou há muito tempo envolvido na Chapecoense, sei o que passamos até aqui. Agora que chegamos, não vou dizer no auge, mas em destaque nacional, acontece uma tragédia dessa. É muito difícil, uma tragédia muito grande", acrescentou.

A Chapecoense esteve à beira da falência no início dos anos 2000, mas se reergueu com o investimento de empresários da cidade e conseguiu o acesso em 2009 da Série D para a Série C do Campeonato Brasileiro.

Após três temporadas na terceira divisão, o time conseguiu o acesso em 2012 da C para a B, e logo no ano seguinte chegou à primeira divisão, tendo como filosofia a organização administrativa, salários em dia e boa infraestrutura de trabalho.

Ao contrário do que se esperava para uma equipe sem tradição, a equipe se consolidou na elite do futebol nacional e, no ano passado, chegou às quartas de final da Copa Sul-Americana.

Na atual temporada o time vivia seu auge. Além do inédito 9º lugar no Campeonato Brasileiro a uma rodada do fim, a Chapecoense derrotou os gigantes argentinos Independiente e San Lorenzo na caminhada até a final da Copa Sul-Americana contra o Atlético Nacional, da Colômbia, em Medellín.

O último passo antes da glória, porém, foi interrompido pela tragédia aérea.

"Era a motivação da cidade, jogavam por amor à camisa e não por dinheiro. Jogavam com garra, só quem mora aqui sabe o que eles fizeram pelo time. Saíram da Série D e chegaram na final da Sul-Americana. Eram feras demais", disse à Reuters o estudante Jean Panegalli, de 17 anos, em Chapecó, onde centenas de pessoas se reuniram do lado de fora do estádio do time, a Arena Condá, após a tragédia.

Diversos times do mundo manifestaram solidariedade à "Chape", como o time ficou conhecido, pelo Twitter, entre eles Barcelona, Manchester United e Liverpool.

Jogadores do Barcelona prestaram homenagem realizando um minuto de silêncio antes do treino desta terça. "Todo nosso apoio e solidariedade estão com as vítimas e as famílias afetadas pela tragédia da Chapecoense na Colômbia", disse o Barça no Twitter.

(Reportagem adicional de Paulo Whitaker em Chapecó; Edição de Maria Pia Palermo e Tatiana Ramil)