Ausentes em voo da Chapecoense vivem drama após acidente
Por Brad Haynes
CHAPECÓ (Reuters) - Para o atacante Alejandro Martinuccio, a cirurgia no joelho direito há dois meses foi um golpe duro, o tirando de campo quando a Chapecoense, o seu time, teve vitórias surpreendentes contra clubes grandes do seu país de origem, a Argentina.
Contudo, a cirurgia salvou mais do que o joelho de Martinuccio. Ela salvou a sua vida.
Depois que a maior parte dos seus companheiros de time morreu num acidente aéreo na Colômbia na segunda-feira a caminho da final Copa Sul-Americana, Martinuccio é um dos jogadores e funcionários da Chapecoense remoendo sobre o fato de não terem tido o mesmo destino.
"Se eu estivesse bem, eu iria para o jogo”, disse Martinuccio, acrescentando que que poderia levar dias para entender o que havia acontecido.
"O fato de que eu não estava lá, é muito duro. É demais para a minha cabeça.”
Das 77 pessoas no voo, somente dois membros da tripulação, um jornalista e três jogadores da Chapecoense sobrevieram depois que o avião caiu numa área de floresta nos arredores de Medellín.
Psicólogos que dão aconselhamento ao clube e a parentes em Chapecó afirmam que pode levar bem mais do que apenas alguns dias para que os que ficaram no Brasil superassem os sentimentos de alívio, lamento e culpa.
“Perder o voo é também um tipo de trauma”, declarou Andre Pessoa, psicólogo da universidade local oferecendo de forma voluntária os seus serviços para o time.
"Por um lado, essas pessoas podem se sentir aliviadas por não estarem no avião, mas o sofrimento pode ser tão ruim quanto se elas estivessem.”
Para alguns, a ausência foi um simples acidente. O filho do técnico Caio Júnior ficou em São Paulo porque esqueceu o passaporte.
Eliandra Valer, namorada do chefe de segurança do clube, havia há pouco viajado para a Argentina com o time usando a carteira de identidade, mas não tinha um passaporte para a viagem à Colômbia.
"Eu estava planejando ir, mas eu não tive sorte com o passaporte. Ou, eu acho, eu tive sorte”, disse ela, emocionada. “Eu não sei o que pensar.”
O ex-técnico Vinicius Eutropio deixou o clube no ano passado. "Isso faz você pensar sobre o valor da sua vida, se há algum significado quando você vai e quando você fica”, disse Eutropio.
Claudio Winck, um defensor que o técnico deixou de fora da equipe que viajou, afirmou que teve dificuldades para dormir depois de passar a terça-feira imaginando o que poderia ter acontecido.
"Eu fiquei lá com a cabeça no travesseiro apenas pensando nos meus companheiros”, declarou ele. “Todos queríamos jogar aquela final.”
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