Fracassa tentativa de votar nesta 4ª no Senado texto criticado pela Lava Jato
Por Lisandra Paraguassu
BRASÍLIA (Reuters) - Fracassou uma tentativa de votar ainda nesta quarta-feira no Senado o texto desfigurado das 10 medidas contra a corrupção, incluindo a possibilidade de punir juízes e promotores por abuso de autoridade, depois da derrota de um requerimento de urgência apresentado, entre outros, pelo líder do PMDB na Casa, Eunício Oliveira (CE), ser rejeitado em plenário.
O requerimento foi derrotado por 44 votos contrários e apenas 14 favoráveis. Entre os senadores que votaram pela urgência do projeto estão o líder do PT, Humberto Costa (PE), Lindbergh Farias (PT-RJ) e alguns parlamentares citados na operação Lava Jato, como Valdir Raupp (PMDB-RO), Ciro Nogueira (PP-PI), Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) e Fernando Collor (PTC-AL).
O requerimento saiu de uma reunião entre Eunício, Renan e outros senadores no gabinete do presidente do Senado na tarde desta quarta-feira, à revelia do Palácio do Planalto, contou à Reuters uma fonte do Senado. Pela manhã, o presidente Michel Temer havia dito a interlocutores que tentaria adiar a apreciação do texto aprovado na madrugada desta quarta pela Câmara.
Auxiliares de Temer ligaram pela manhã para Eunício para explicitar a posição do Planalto. O presidente quer evitar vetar ou sancionar o projeto em um momento de fragilidade, com manifestações marcadas contra a proposta. Ao mesmo tempo, o presidente teme desagradar a base em um momento que há votações importantes a serem feitas, como o segundo turno da Proposta de Emenda à Constituição que cria o teto de gastos e a proposta de reforma da Previdência.
"Não sei o que aconteceu. Quando cheguei a confusão estava armada. Não entendi o que Renan quis fazer", disse um parlamentar próximo ao Planalto.
Alegando que líderes teriam pedido a votação do requerimento, Renan acelerou o processo e tentou fazer a aprovação da urgência em votação simbólica, mas a reação de um grupo de senadores fez com que o presidente do Senado tivesse que abrir votação nominal.
Ainda assim, nenhum senador apareceu para encaminhar a votação favorável ao requerimento, como é de praxe. Vários falaram contra a proposta.
"Para apoiar o requerimento não aparece um senador", criticou o líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO).
No plenário, alguns senadores se movimentavam pedindo votos para o requerimento de urgência. Entre eles, Humberto Costa e Lindbergh.
Líder do governo no Senado, o tucano Aloysio Nunes (SP) foi um dos que criticou a proposta. "Não nos coloquem na contramão da opinião pública. Não quero que essa matéria chegue na mesa do presidente Temer para vetar ou apoiar", afirmou o senador, revelando a preocupação do Planalto.
Na mesma linha, o líder do PPS, senador Cristovam Buarque (DF), foi duro. "Não acredito que o presidente tenha coragem de sancionar ou vai caminhar para um fim antecipado de seu mandato. É uma desmoralização completa", disse Cristovam, que ainda acusou Renan de abuso de autoridade e de tentar atropelar o regimento da Casa.
REAÇÃO
Parlamentares atribuem a tentativa de Renan a uma reação aos procuradores da operação Lava Jato, que hoje ameaçaram renunciar à força-tarefa que investiga o caso se o projeto for sancionado por Temer.
Os procuradores classificaram o dispositivo que permite punir juízes e promotores de "lei da intimidação" e disseram que ele implica no começo do fim das investigações sobre o esquema de corrupção na Petrobras.
Ao sair do plenário, Renan negou que tivesse influenciado na tentativa de votação.
"Houve um requerimento de senadores pedindo a urgência e a inclusão na pauta, não havia outra solução que consultar o plenário, e o plenário decidiu que não era urgente. Acho muito bom que vai tramitar demoradamente na Comissão de Constituição e Justiça", disse Renan, negando que tenha sido uma retaliação.
"As tentativas de interferir no Legislativo são muitas", rebateu.
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