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Presidente de maior agência de publicidade do Japão renuncia após suicídio de funcionária

29/12/2016 13h57

TÓQUIO (Reuters) - O presidente da Dentsu, maior agência de publicidade do Japão, vai renunciar depois que uma jovem funcionária morreu "por excesso de trabalho", um suicídio que levou a investigações de autoridades e novas críticas sobre a cultura de horas extras do país.

Matsuri Takahashi, uma promissora graduada da principal universidade do Japão, se suicidou em dezembro de 2015, deixando para trás uma série de queixas sobre dias implacáveis. Ela registrou 105 horas extras em outubro de 2015, antes de tornar-se depressiva.

A morte da jovem, considerada pelo governo japonês como "karoshi" ou morte por excesso de trabalho, fez autoridades organizarem buscas nos escritórios da Dentsu, mas também a criação do primeiro documento do governo com diretrizes para enfrentamento do assunto.

O documento descobriu que em um país que impõe poucos limites sobre os funcionários com relação a horas extras e pagamento, mais de um quinto das companhias tinham funcionários que faziam mais de 80 horas extras em um mês, o limite permitido pelo governo.

"É extremamente lamentável que não conseguimos evitar o excesso de trabalho de um novo funcionário", disse o presidente da Dentsu, Tadashi Ishii, a jornalistas. "Como forma de assumir completa responsabilidade, eu vou apresentar minha renúncia na reunião do conselho de administração em janeiro."

A renúncia de Ishii vem no momento em que o primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, está promovendo uma campanha de grande alcance para reformar as leis trabalhistas do Japão, o que poderia incluir uma regulamentação mais restrita para horas extras.

O trabalho árduo e o sacrifício têm sido sinônimos de Japão, e fortes expectativas sociais tornam difícil para empregados e sindicatos pressionarem agressivamente por reformas.

Os trabalhadores sentem frequentemente uma dívida da gratitude por terem sido contratos e relutam em se demitir mesmo se as condições de trabalho sejam ruins. Outros, especialmente os novos contratados, sentem que têm de trabalhar mais horas do que seus colegas para serem promovidos.

A mãe de Takahashi, Yukimi, disse em comunicado divulgado à imprensa por seus advogados no domingo que ela quer "mudar a consciência de cada trabalhador no Japão". O comunicado foi divulgado no aniversário de um ano da morte de sua filha.

Nos anos mais recentes, o governo tem revisado leis trabalhistas para encorajar jornadas menores, mas críticos afirmam que as medidas ainda dependem muito de autoregulação das empresas.

O Japão considera oficialmente dois tipos de karoshi: morte por doença cardiovascular ligada ao excesso de trabalho e suicídio após estresse relacionado ao trabalho.

(Por Kiyoshi Takenaka)