ESTREIA-Ben Affleck dirige e estrela o filme noir "A Lei da Noite"
SÃO PAULO (Reuters) - Os romances e contos do escritor norte-americano Dennis Lehane parecem feitos sob medida para serem adaptados para o cinema. Suas narrativas são intrincadas e carregadas de mistério. Seus personagens muito bem delineados, figuras fortes. E Hollywood tem ouvido esse chamado.
A melhor de todas adaptações ainda é “Sobre Meninos e Lobos”, assinada por Clint Eastwood, mas Martin Scorsese (com “Ilha do Medo”) e Ben Affleck (com “Medo da Verdade”) também fizeram trabalhos dignos.
A mais recente adaptação, novamente assinada por Affleck, no entanto, não está à mesma altura das outras – embora esteja longe de ser o desastre divulgado pela imprensa estrangeira quando estreou nos EUA. Trabalhando a partir do romance “Os Filhos da Noite”, o diretor, que também assina o roteiro, traça a ascensão do gângster Joe Coughlin (interpretado pelo próprio Affleck).
Os elementos típicos do gênero noir estão lá: gângsteres, armas, sangue, Lei Seca, “femme fatale” (na falta de uma, aqui há três). Mas a conjunção dos fatores não conduz a um resultado tão feliz como as demais adaptações de Lehane. Affleck dirige com elegância e segurança, mas o excesso de falsos começos compromete a entrada no filme.
Conhecemos Coughlin pouco depois da 1ª Guerra Mundial. Filho de um importante policial de Boston de origem irlandesa (Brendan Gleeson), ele desafia a criação rígida e entra para o crime. Vive de pequenos golpes, vai preso e, mais tarde, envolve-se com a mulher errada (Sienna Miller). Até que, para salvar sua pele, pede ajuda a um grande mafioso, Maso Pescatore (Remo Girone), que o manda para Ybor City, na Flórida.
Aí, finalmente, “A Lei da Noite” parece começar, e o filme se transforma num noir ensolarado, sob o céu da Flórida, bem próximo a Cuba. Na nova cidade, com a ajuda do comparsa, Dion Bartolo (Chris Messina), Joe cuidará dos negócios – envolvendo, é claro, venda ilegal de bebidas, prostituição e a construção de um cassino, entre outras coisas. Nessa mesma cidade, ele conhece a rica cubana Graciella Suarez (Zoe Saldana), por quem se apaixona.
Há outras complicações – que muitas vezes são mais interessantes do que a trama central – ameaçando os negócios. A principal delas atende pelo nome de Loretta Figgs (uma Elle Fanning impressionante, como sempre). Filha do delegado local (Chris Cooper), a primeira vez que a vemos ela está de partida para Hollywood, onde sonha tornar-se uma estrela. Mais tarde, sabe-se que nada disso deu certo: a mocinha viciou-se em heroína e se prostitui.
Quem descobre isso é Joe, que a resgatará, colocando-a numa clínica para chantagear seu pai. Quando ela se recupera totalmente, porém, torna-se uma pregadora renascida em Cristo, que será a principal voz contra a construção do cassino na cidade.
Há outros elementos que nem sempre são bem desenvolvidos no filme – como uma subtrama envolvendo a Ku Klux Klan. Em seu filme mais ambicioso – em temas, narrativa e produção –, Affleck mira em uma dúzia de assuntos sérios, desde preconceito racial até o papel da mulher na sociedade, mas nem sempre se aprofunda devidamente neles. Ainda assim, a trama (cortesia de Lehane), as personagens interessantes e a direção segura transformam “A Lei da Noite” num programa atraente.
(Por Alysson Oliveira, do Cineweb)
* As opiniões expressas são responsabilidade do Cineweb
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