Topo

May dá largada formal ao Brexit e avisa: "não tem volta"

29/03/2017 13h08

Por Guy Faulconbridge e Elizabeth Piper

LONDRES (Reuters) - A primeira-ministra britânica, Theresa May, iniciou formalmente a desfiliação do Reino Unido da União Europeia, o chamado Brexit, nesta quarta-feira, dizendo que a decisão "não tem volta", levando o país ao desconhecido e desencadeando anos de intensas negociações.

Nove meses depois de os britânicos decidirem o rompimento em uma votação, May notificou o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, com uma carta informando que o Reino Unido está se separando do bloco ao qual se uniu em 1973.

"O Reino Unido está deixando a União Europeia", disse ela mais tarde ao Parlamento em Londres. "Este é um momento histórico que não tem volta."

A premiê, inicialmente uma opositora do Brexit que conquistou o maior cargo do país na turbulência política que se seguiu ao referendo de separação, terá dois anos para acertar os termos do rompimento antes de este entrar em vigor, no final de março de 2019.

May, de 60 anos, tem uma das tarefas mais duras de qualquer premiê britânico recente: manter a coesão do país diante das novas demandas de independência da Escócia e ao mesmo tempo realizar conversas árduas com os 27 outros países-membros da UE a respeito de finanças, comércio, segurança e outros temas complexos.

O desfecho das negociações irá moldar o futuro da economia britânica de 2,6 trilhões de dólares, a quinta maior do mundo, e determinar se Londres consegue se manter com um dos dois maiores centros financeiros globais.

Para a UE, já abalada por crises sucessivas de débito e de refugiados, a perda do Reino Unido é o maior golpe já sofrido em seus 60 anos de esforços para forjar uma unidade europeia na esteira de duas guerras mundiais devastadoras.

Seus líderes dizem não querer punir o Reino Unido, mas, devido à ascensão de partidos nacionalistas e anti-UE por toda a Europa, não podem se dar ao luxo de oferecer termos generosos a Londres que possam incentivar outros Estados-membros a se desfiliar.

O comunicado de May foi entregue em mãos a Tusk por Tim Barrow, representante permanente do Reino Unido na UE, em Bruxelas.

Barrow entregou a carta ao ex-premiê polonês Tusk nos escritórios do presidente do Conselho, situado no último andar do novo Edifício Europa, de acordo com um fotógrafo da Reuters que estava no local.

O momento iniciou formalmente a contagem regressiva do processo de desfiliação britânica de dois anos. A libra esterlina, que perdeu 25 por cento de seu valor diante do dólar desde o referendo de 23 de junho, subiu para 1,25 dólar.

May assinou a carta do Brexit na terça-feira, quando foi fotografada sozinha à mesa de seu gabinete debaixo de um relógio, uma bandeira britânica e uma pintura a óleo do primeiro premiê do país, Robert Walpole.

O documento de seis páginas adotou um tom positivo para as conversas, embora admita que a tarefa de retirar o Reino Unido do bloco seja vultosa e que obter acordos abrangentes em dois anos será desafiador.

May quer negociar o desligamento britânico e a futura relação comercial com a UE neste período de tempo, mas autoridades europeias dizem que isso será difícil devido à profundidade do relacionamento.

"Acreditamos que é necessário acertar os termos de nossa parceria futura juntamente com aqueles de nossa retirada da UE", disse May a Tusk na carta, acrescentando que Londres quer um acordo de livre comércio ambicioso com o bloco.

"Se, porém, deixarmos a União Europeia sem um acordo, a posição padrão é que teríamos que negociar nos termos da Organização Mundial do Comércio", disse ela.

O Reino Unido irá tentar estabelecer seus próprios acordos de livre comércio com países de fora da Europa e impor limites à imigração do continente, afirmou May.

Na tentativa de iniciar as tratativas do Brexit em tom conciliatório, ela disse querer um relacionamento especial com a UE, embora tenha condicionado essa ambição a laços na economia e na segurança.

Os líderes da UE irão saudar as garantias de uma abordagem construtiva e apreciar o compromisso do Reino Unido de continuar sendo um parceiro próximo da UE e incentivar seu desenvolvimento, assim como um reconhecimento explícito de que o Reino Unido não pode manter todas as benesses da filiação depois do rompimento.

Dentro de 48 horas, Tusk irá enviar esboços das diretrizes da negociação aos 27 membros restantes do bloco. Ele irá delinear sua visão em Malta, onde irá participar de um congresso de líderes de centro-direita. Depois disso, os embaixadores das 27 nações irão se reunir em Bruxelas para debater o esboço de Tusk.

(Reportagem adicional de Alastair Macdonald, Jan Strupczewski e Yves Herman, em Bruxelas; Michael Rose, em Paris; e Estelle Shirbon, Kate Holton, Kylie MacLellan, William James, Paul Sandle e Anjuli Davies, em Londres)