Estado Islâmico causa choque e revolta em Mosul ao destruir mesquita histórica
Por Kawa Omar e Ahmed Rasheed
MOSUL/BAGDÁ, Iraque (Reuters) - "Quando olhei pela janela e vi que o minarete não estava mais lá, senti que parte de mim morreu".
Para Ahmed Saied, professor escolar iraquiano de 54 anos, e muitos outros, Mosul nunca mais será a mesma depois que militantes do Estado Islâmico explodiram o minarete inclinado que decorou sua cidade durante quase 850 anos.
Os militantes destruíram a Grande Mesquita de Al-Nuri na noite de quarta-feira, assim como seu famoso minarete, afetuosamente apelidado pelos iraquianos de Al-Hadba, ou "o corcunda". Ao amanhecer, tudo que restava era a base que se projetava da alvenaria destroçada.
A destruição aconteceu enquanto forças do Iraque se aproximavam da mesquita, que também tinha uma importância simbólica enorme para o Estado Islâmico --seu líder, Abu Bakr al-Baghdadi, a usou em 2014 para declarar um "califado" sobre partes do Iraque e da Síria.
Sua bandeira negra estava hasteada no minarete de 45 metros de altura desde junho de 2014, quando combatentes do grupo irromperam por todo o país e ocuparam vastas porções de seu território.
Os insurgentes preferiram explodir a mesquita a ver sua bandeira retirada pelas forças apoiadas pelos Estados Unidos que lutam no labirinto de vielas e ruas estreitas da Cidade Velha, o último bairro de Mosul ainda controlado pelo Estado Islâmico.
"De manhã cedo, subi no telhado de minha casa e fiquei chocado de ver que o minarete Hadba havia desaparecido", contou Nashwan, trabalhador diarista que mora no bairro de Khazraj, próximo da mesquita, por telefone. "Rompi em lágrimas. Senti que tinha perdido um filho."
O departamento de mídia dos militares iraquianos distribuiu uma foto tirada do ar que mostra a mesquita e o minarete praticamente reduzidos a escombros entre as pequenas casas e vielas estreitas da Cidade Velha. Um vídeo publicado em uma rede social mostrou o minarete tombando verticalmente e levantando uma nuvem de areia e poeira.
"As forças de segurança do Iraque continuam a avançar sobre o território ainda em mãos do Estado Islâmico", disse o coronel do Exército norte-americano Ryan Dillon, porta-voz da coalizão internacional liderada pelos EUA que auxilia o esforço iraquiano para derrotar a facção.
"Ainda há dois quilômetros quadrados no oeste de Mosul antes de a cidade inteira ser liberada", disse ele à Reuters por telefone.
Para muitos, a destruição do minarete marcou o colapso definitivo do domínio do Estado Islâmico em Mosul e um presságio de sua derrota em todo o Iraque.
"Explodir o minarete Al-Hadba e a mesquita de Al-Nuri equivale a um reconhecimento oficial da derrota", disse o primeiro-ministro iraquiano, Haider al-Abadi, nesta quinta-feira em seu site.
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