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Venezuelanos feridos em protestos de rua revelam dificuldades de recuperação

Yolyter Rodriguez, 56, dona de casa e mãe de três filhos, foi ferida na cabeça durante protesto contra Nicolás Maduro, na Venezuela - UESLEI MARCELINO/REUTERS
Yolyter Rodriguez, 56, dona de casa e mãe de três filhos, foi ferida na cabeça durante protesto contra Nicolás Maduro, na Venezuela Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Andreina Aponte

Em Caracas

24/08/2017 14h46

Jesús Ibarra, estudante de engenharia de 19 anos, mal tem conseguido andar ou falar desde que um cilindro de gás lacrimogêneo afundou parte de seu crânio durante um protesto contra o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, e ele caiu desmaiado em um rio poluído.

A escassez crônica de remédios no país obrigou sua família a pedir doações de medicamentos para que Ibarra pudesse passar por cinco cirurgias no crânio e receber tratamento para as infecções contraídas no rio Guaire.

O estudante Manuel Melo, 21, foi atingido por um jato d'água disparado pela polícia durante um dos protestos e teve ferimentos internos - UESLEI MARCELINO/REUTERS - UESLEI MARCELINO/REUTERS
O estudante Manuel Melo, 21, foi atingido por um jato d'água disparado pela polícia durante um dos protestos e teve ferimentos internos
Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Ibarra, que não poderá voltar aos estudos tão cedo, precisa de uma sexta operação e de terapia. Não está claro se ele conseguirá se recuperar totalmente.

"Converso muito com meu filho, e às vezes ele dá a entender que não valeu a pena sofrer isso, que ele se arrepende, que foi um erro", disse seu pai, José, na pequena casa da família, localizada na grande favela de Petare, em Caracas.

"Mas outras vezes ele me diz claramente que valeu a pena lutar por uma mudança na qual acredita".

David Osorio, 21, um professor de inglês e estudante foi atingido por gás de pimenta e teve fratura em um dos olhos - UESLEI MARCELINO/REUTERS - UESLEI MARCELINO/REUTERS
David Osorio, 21, um professor de inglês e estudante foi atingido por gás de pimenta e teve fratura em um dos olhos
Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Ibarra é uma das quase 2 mil pessoas feridas durante quatro meses de intensas manifestações de rua contra Maduro, de acordo com dados da Procuradoria-Geral. Grupos de direitos humanos acreditam que o número provavelmente é maior.

A Venezuela está sendo assolada por uma crise política e econômica grave que está provocando uma escassez crônica de alimentos e remédios, uma inflação esmagadora e o colapso da moeda nacional. Já a Assembleia Constituinte empossada neste mês vem sendo acusada de instaurar uma ditadura.

Balas de borracha disparadas à queima-roupa, pedras e cilindros de gás lacrimogêneo causaram a maior parte dos ferimentos, dizem médicos e grupos de direitos humanos. A maioria dos feridos parece ser de manifestantes da oposição, mas apoiadores de Maduro, forças de segurança e transeuntes também se feriram.

Filha de Yolyter Rodriguez troca o curativo de ferimento que foi causado durante protesto na Venezuela - UESLEI MARCELINO/REUTERS - UESLEI MARCELINO/REUTERS
Filha de Yolyter Rodriguez troca o curativo de ferimento que foi causado durante protesto na Venezuela
Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

Mais de 125 pessoas morreram nos tumultos desde abril, e milhares foram presas.

O impopular presidente de esquerda disse estar enfrentando uma insurgência armada determinada a depô-lo.

Políticos de oposição dizem que foram forçados a ir às ruas depois que as autoridades restringiram os meios democráticos de se obter mudanças. Eles também acusaram as forças de segurança de usarem força excessiva contra os manifestantes.

O estudante de culinária Brian Dalati, de 22 anos, contou que em julho estava a caminho das aulas e passou por uma barricada de rua montada por opositores quando a polícia o confundiu com um manifestante. Eles o golpearam e dispararam tiros de chumbo grosso em suas pernas, fraturando suas duas tíbias.

O jovem Jofre Rodriguez, 18, foi ferido por um tiro durante protesto na Venezuela - UESLEI MARCELINO/REUTERS - UESLEI MARCELINO/REUTERS
O jovem Jofre Rodriguez, 18, foi ferido por um tiro durante protesto na Venezuela
Imagem: UESLEI MARCELINO/REUTERS

"Dependo de meus irmãos para ir ao banheiro, tomar banho, escovar os dentes, comer, tudo. É revoltante", afirmou.

O governo diz que a mídia de direita dá atenção excessiva aos ferimentos dos manifestantes.