Espanha destitui governo catalão e convoca eleições após declaração de independência
Por Sam Edwards e Angus MacSwan
BARCELONA/MADRI (Reuters) - O governo de Madri destituiu o presidente da Catalunha e dissolveu o Parlamento catalão nesta sexta-feira, horas após a região se declarar uma nação independente, na crise política mais grave da Espanha desde seu retorno à democracia, há quatro décadas.
Uma nova eleição será realizada na Catalunha em 21 de dezembro, disse o primeiro-ministro da Espanha, Mariano Rajoy, em discurso televisionado.
Além de remover Carles Puigdemont como líder da região autônoma, ele também demitiu o chefe da polícia e disse que ministérios do governo central irão assumir o governo da Catalunha.
“A Espanha está vivendo um dia triste”, disse Rajoy. “Nós acreditamos que é urgente ouvir cidadãos catalães, todos eles, para que possam decidir o seu futuro e ninguém pode agir fora da lei em seus nome.”
Conforme falava, milhares de apoiadores da independência lotaram a Praça Sant Jaume, em frente à sede do governo catalão, em Barcelona, com ânimos diminuídos pelas ações de Rajoy.
Em um ato de desafio a Madri, o Parlamento catalão havia votado de tarde para fazer uma declaração unilateral de independência.
Apesar de emoções e celebrações dentro e fora do prédio, foi um gesto em vão, uma vez que pouco depois o Senado espanhol aprovou a imposição de controle direto sobre a Catalunha.
Diversos países europeus, incluindo França e Alemanha, e os Estados Unidos também rejeitaram a declaração de independência e disseram apoiar os esforços de Rajoy para preservar a unidade espanhola.
Em Bruxelas, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, disse que a votação de independência não mudou nada e que a União Europeia só lidará com o governo central.
A crise atingiu um novo e possivelmente perigoso nível, conforme apoiadores da independência convocaram uma campanha de desobediência. Imediatamente após notícias da votação catalã pela independência no Parlamento, que três partidos da oposição boicotaram, ações e títulos espanhóis foram vendidos, refletindo preocupações empresariais sobre a agitação.
A crise se desdobrou após a Catalunha realizar um referendo por independência em 1º de outubro, que foi declarado ilegal por Madri. Embora tenha endossado independência, o referendo teve somente 43 por cento de comparecimento, com catalães opostos à independência realizando um amplo boicote.
A tentativa de independência causou profunda indignação por toda a Espanha. A crise também gerou saída de empresas da Catalunha e alarmou líderes europeus que temem que o episódio pode impulsionar sentimentos separatistas no continente.
A Catalunha é uma das regiões mais prósperas da Espanha e já tem um alto grau de autonomia. Mas a região possui uma série de mágoas históricas, exacerbadas durante a ditadura Franco, de 1939 a 1975, quando sua cultura e política foram reprimidas.
Em Barcelona, Jordi Cases, de 52 anos, um agricultor da província de Lleida que dirigiu com sua família para o protesto, disse estar animado, mas preocupado com o que vem a seguir.
"Agora a repressão será terrível, mas nós temos que tomar o que podemos. Nós precisamos resistir e pedir ajuda onde for necessário”, disse.
O líder catalão, Puigdemont, deixou a câmara aos gritos de "Presidente!" após a votação pela independência, e prefeitos que haviam chegado de áreas adjacentes brandiram seus bastões cerimoniais e cantaram o hino catalão "Os Ceifadores".
"A Catalunha é e será uma terra de liberdade. Em tempos de dificuldade e em tempos de comemoração. Agora mais do que nunca", tuitou Puigdemont.
(Reportagem adicional de Paul Day, Julien Toyer e Jesus Aguado)
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