Topo

Governo diz que país caminha para normalidade com fim da greve dos caminhoneiros

31/05/2018 16h38

Por Marcela Ayres e Pedro Fonseca

BRASÍLIA/RIO DE JANEIRO (Reuters) - Após 11 dias de bloqueios e manifestações de caminhoneiros por rodovias de todo país, o governo anunciou nesta quinta-feira que o Brasil está retornando à normalidade com o fim da paralisação da categoria, que teve suas principais demandas atendidas por meio de um pacote com impacto bilionário.

Pela primeira vez, desde o início da paralisação dos caminhoneiros em 21 de maio, não houve registro de pontos de aglomeração de pessoas e veículos, ou qualquer outra anormalidade no fluxo normal de veículo, em estradas do país, de acordo com balanço da Polícia Rodoviária Federal, por volta do meio-dia desta quinta-feira.

"Brasil está rodando e voando normalmente", afirmou o ministro do Gabinete de Segurança Institucional, Sergio Etchegoyen, a jornalistas, após reunião no Palácio do Planalto do grupo instaurado pelo governo para acompanhar a situação do desabastecimento provocado pela paralisação.

"Hoje de manhã operações importantes foram levadas a efeito, trazendo as últimas boas notícias. Nós terminamos o dia ontem e iniciamos hoje com o país voltando à normalidade", acrescentou.

O ministro reconheceu que o cenário ainda é de "filas em alguns lugares", mas considerou que não houve "interrupção dramática" nos abastecimento de gêneros de primeira necessidade.

O movimento dos caminhoneiros, que no auge das paralisações chegou a realizar mais de 1.000 bloqueios em estradas de todos os Estados e no Distrito Federal, provocou um desabastecimento generalizado e afetou diversos setores da economia. Voos foram cancelados, filas gigantescas se formaram em postos de gasolina e muitas empresas chegaram a interromper a produção.

A greve começou a perder força na segunda-feira, depois que um segundo acordo proposto pelo governo, desta vez atendendo à maior parte das demandas dos caminhoneiros após uma recusa inicial da categoria a uma proposta anterior, e finalmente representantes do movimento recomendaram o fim da paralisação.

Os caminhoneiros em greve vinham mantendo resistência em encerrar o movimento mesmo após o governo acionar o uso das Forças Armadas para desbloquear rodovias e ameaçar impor multas a quem se recusasse a desobstruir as vias.

A principal concessão feita pelo governo foi a redução do preço do litro do óleo diesel em 46 centavos até o fim do ano por meio de redução de impostos e por uma subvenção de 9,5 bilhões de reais da União, que irá ressarcir a Petrobras por perdas com o diesel.

Para tapar o buraco, o governo anunciou uma série de medidas, como reduções de benefícios tributários para exportadores, empresas de refrigerantes e petroquímicas, além de cortes de gastos públicos em áreas como saúde e educação.

Na avaliação do governo, a paralisação dos caminhoneiros teria chegado ao fim antes não fosse por um locaute promovido por empresas distribuidoras de combustíveis e transportadoras que se aproveitaram do movimento para realizar um locaute, quando empresários impedem funcionários de trabalhar, para aumentar seus ganhos.

O Porto de Santos, o maior da América Latina, voltou a ter movimentação de cargas nesta manhã por meio de uma operação coordenada pelo Exército, após vários dias seguidos de bloqueios, e cerca de 70 por cento do abastecimento de combustível do país já tinha voltado ao normal, segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).

No entanto, um representante da operadora de logística Maersk Line disse que o acesso a Santos havia sido liberado, mas os portões continuavam fechados. "Vimos algumas importações-chave sendo liberadas de terminais no complexo de Santos. Ainda assim, esperamos que os volumes de exportações do Brasil continuarão sendo seriamente impactos pelas próximas semanas", disse Antonio Dominguez, diretor para da costa leste da América do Sul da Maersk.

Nesta quinta-feira a Polícia Federal prendeu um empresário acusado de locaute no Rio Grande do Sul, na primeira operação resultante de investigações realizadas durante a paralisação.

Segundo o ministro Etchegoyen, não houve nenhum ato de violência por parte do governo no emprego da força contra aqueles que sabotaram o final da greve dos caminhoneiros. O ministro lamentou a morte de um caminhoneiro com uma pedrada lançada por um manifestante em Rondônia.

Ao participar de uma reunião com líderes evangélicos nesta quinta, o presidente Michel Temer ressaltou que não houve confrontos entre as forças de segurança e os grevistas, e ressaltou a importância do diálogo para solucionar a crise.

Temer disse que se sentia "iluminado por Deus" por participar de evento com religiosos no mesmo dia que o país começava a retornar à normalidade. "Acho que fui chamado no dia de hoje iluminado por Deus... para comemorar a pacificação do país, acho que foi isso que nós fizemos", afirmou.

PETROLEIROS

Além do fim da paralisação dos caminhoneiros, também foi anunciada nesta quinta-feira a suspensão da greve de 72 horas convocadas por petroleiros contra o que afirmam ser um processo de privatização da Petrobras , assim como contra a política de preços adotada pela estatal.

A Federação Única dos Petroleiros (FUP) recomendou aos sindicatos da categoria o fim da greve depois que o Tribunal Superior do Trabalho (TST) declarou a greve ilegal e estabeleceu multas de 2 milhões de reais por dia de paralisação.

De acordo com os sindicatos, 21 plataformas da Petrobras na Bacia de Campos --responsável por cerca de metade da produção de petróleo do Brasil-- tinham aderido à greve, que também atingiu refinarias e terminais.

Em comunicado após o anúncio da FUP, a estatal confirmou que a greve de petroleiros acabou e que todas suas unidades estão operando, acrescentando que não houve impacto sobre a produção e nem risco de desabastecimento.

(Com reportagem adicional de Laís Martins em São Paulo)