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Comandante do Exército de Mianmar recusa interferência externa na crise dos rohingyas

24/09/2018 11h51

YANGON (Reuters) - O comandante do Exército de Mianmar rejeitou nesta segunda-feira qualquer interferência externa enquanto líderes mundiais se reúnem na Organização das Nações Unidas (ONU) para encontrar maneiras de responsabilizar os poderosos generais do país pelas atrocidades cometidas contra muçulmanos rohingyas no ano passado.

Em seus primeiros comentários públicos sobre o tema desde a publicação do relatório de uma missão de levantamento de fatos da ONU neste mês, Min Aung Hlaing disse que Mianmar respeita os pactos com a ONU, mas alertou que "conversas que interferem em assuntos internos" causam "mal-entendidos".

"Como países estabelecem padrões e normas diferentes, nenhum país, organização e grupo tem direito de interferir e tomar decisões sobre a soberania de um país", disse Min Aung Hlaing em comentários publicados em inglês em seu site.

As colocações, feitas durante uma viagem ao nordeste de Mianmar no domingo, também foram publicadas em um jornal dos militares nesta segunda-feira.

Não foi possível contactar um porta-voz militar de imediato.

A missão da ONU pediu que Min Aung Hlaing e cinco outros generais sejam processados por crimes contra a humanidade e genocídio devido a alegações de execuções em massa e estupros coletivos.

Uma operação de repressão militar realizada em Rakhine, Estado do oeste do país, no ano passado depois de ataques de militantes rohingyas contra postos da polícia e do Exército levou mais de 700 mil integrantes da minoria em grande parte apátrida a cruzarem a fronteira com Bangladesh.

Mianmar proibiu a entrada dos investigadores da missão da ONU e rejeitou suas conclusões, insistindo que as forças de segurança realizaram uma operação legítima para extirpar "terroristas".

Em seus comentários, Min Aung Hlaing se referiu aos rohingyas como bengalis, insinuando que pertencem a Bangladesh, e disse que eles precisam "aceitar o escrutínio" da Lei de Cidadania de 1982.

A lei restringe a cidadania para aqueles que, como os rohingyas, não são membros de grupos étnicos reconhecidos oficialmente.

A líder eleita Aung San Suu Kyi divide o poder com os militares, conforme a Constituição de 2008 escrita pelos generais que comandaram Mianmar durante décadas.

A procuradoria do Tribunal Penal Internacional começou a examinar a suposta deportação forçada de rohingyas para Bangladesh. Mianmar disse que quer repatriar os rohingyas que fugiram.

(Reportagem de Simon Lewis e Thu Thu Aung)