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Imigrantes descrevem centros de detenção superlotados no México enquanto Trump aumenta pressão

11.mai.2019 - Freira entrega comida para imigrantes em Tapachula, no México - Andres Martinez Casares/Reuters
11.mai.2019 - Freira entrega comida para imigrantes em Tapachula, no México Imagem: Andres Martinez Casares/Reuters

Por Delphine Schrank

De Tapachula (México)

23/06/2019 15h58

Centros de imigração no México estão cada vez mais sujos e superlotados à medida que autoridades aumentam o número de detenções de imigrantes tentando chegar aos Estados Unidos, com muitos dos detidos definhando por semanas em meio à negligência médica, segundo detentos, advogados e grupos de direitos de imigrantes.

A Reuters conversou com mais de uma dúzia de presos recentes no centro de detenção Siglo XXI, o maior do país. Eles descreveram que estão detidos na instalação no estado de Chiapas, na fronteira sul do México, por longos períodos, sem informações sobre seus casos.

Os detidos relatam graves condições na unidade, que envolvem superlotação, pouca água e comida, e limitado acesso a tratamentos de saúde.

Os relatos foram apoiados por dois advogados representando outros 26 detentos, assim como pelo ombudsman de imigração na Comissão Nacional de Direitos Humanos do México e dois grupos de direitos de imigrantes: Fray Matías de Córdova e Missão de Observação de Direitos Humanos para Refugiados e Crises Humanitárias no Sudeste do México, um coletivo com 24 grupos de apoio.

Doze dos detidos afirmaram à Reuters que estão sendo mantidos presos há pelo menos três semanas no centro, que deveria segurar as pessoas por no máximo 15 dias, até que seus casos fossem processados.

O Instituto de Imigração Nacional do México (INM), que administra o Siglo XXI, não respondeu a repetidos pedidos de comentários sobre as condições do centro.

Questionado sobre as detenções estendidas, um oficial do INM, que pediu para não ser identificado, disse que casos de imigrantes são complexos e precisam ser analisados individualmente.

Guardas nos portões do centro recusaram-se a responder perguntas ou a permitir que um repórter da Reuters conversasse com seu diretor.

Detenções triplicam

O presidente americano Donald Trump tornou a repressão à imigração ilegal a bandeira da sua campanha em 2016.

Sem conseguir junto ao Congresso os fundos necessários para construir um muro na fronteira, e com um significativo crescimento do número de imigrantes da América Central buscando asilo, Trump ameaçou com tarifas comerciais caso o México não restringisse a imigração ao sul da fronteira.

Em resposta, o México aumentou as detenções. Durante os primeiros cinco meses do ano, triplicou o número de imigrantes detidos mensalmente, chegando a 23.670 em maio, de acordo com dados do governo que não são públicos, mas foram vistos pela Reuters.

A situação colocou sob estresse uma rede de centros de detenção que já tinha reputação de estar em condições precárias.

Estrangeiros parados pelas autoridades mexicanas sem documentos válidos podem ser detidos enquanto aguardam vistos de trânsito ou regularização da sua situação. Edgar Corzo, o ombudsman de imigração, disse que o processo deveria demorar no máximo 15 dias.

Milhares passaram pelos portões do Siglo XXI este ano, com Corzo e grupos de direitos de imigração dizendo que o centro está operando há meses com o dobro de sua capacidade, de 970 pessoas.

Todas as pessoas consultadas para esta reportagem disseram que detidos dormem em colchões finos, ou em nenhum colchão, em corredores e banheiros devido à falta de espaço nas celas.

Corzo disse que o INM não conseguiu aliviar a superlotação, apesar de repetidos pedidos da comissão de direitos humanos, o que ele atribui parcialmente à falta de recursos.

Detentos disseram que crianças com mais de 13 anos foram separadas de seus pais e que as luzes ficam acesas à noite, atrapalhando o sono - reclamações apoiadas por um relatório apresentado em 31 de maio pelo coletivo de apoio a imigrantes e pelo ombudsman de direitos de imigração.

Eles também relataram à Reuters que as condições insalubres levaram a surtos de diarreia entre crianças detidas.