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Partidários de Guaidó deixam embaixada da Venezuela em Brasília

13/11/2019 11h17

Por Sergio Moraes e Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Os venezuelanos ligados ao autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, e reconhecido como líder legítimo da nação vizinha pelo Brasil, deixaram no final da tarde desta quarta-feira a embaixada do país em Brasília, após terem ocupado o local desde a madrugada, aparentemente colocando fim a um impasse que perdurou durante quase todo o dia.

Os aliados de Guaidó, que afirmaram terem tido o acesso liberado por servidores da representação diplomática, deixaram a embaixada pelos fundos. Foi feito um acordo para que saíssem do local e não fossem presos, afirmaram funcionários da embaixada.

A ocupação temporária abriu uma tensa disputa entre aliados de Guaidó com diplomatas partidários do presidente venezuelano Nicolás Maduro que acusou o grupo de invasão do local.

Em entrevista, o encarregado de Negócios do governo de Nicolás Maduro no Brasil, Freddy Meregote, afirmou que o grupo entrou violentamente na embaixada. "Violentaram o que representa o território venezuelano no Brasil", criticou.

O chanceler do governo Maduro, Jorge Arreaza, também comentou a saída do grupo, em sua conta no Twitter.

"Anunciamos que o grupo de pessoas que entrou violentamente em nossa Embaixada em Brasília deixou nosso território e instalações, pacificamente, pelas autoridades. Agradecemos aos movimentos sociais brasileiros por seu apoio corajoso", afirmou.

Já a embaixadora de Guaidó em Brasília, María Teresa Belandria, disse que orientou a saída do grupo e agradeceu o apoio do governo brasileiro.

"Nós passamos instruções para o grupo na embaixada em Brasília para se retirar porque não podemos garantir a segurança deles em virtude da violência generalizada dos apoiadores do regime de Maduro", disse Belandria. "Agradecemos ao governo do presidente Jair Bolsonaro por todo o apoio nessas difíceis circunstâncias."

"A partir deste momento vamos iniciar junto às autoridades brasileiras um processo de negociação para que conforme seus interesses e nossos direitos legítimos vamos estabelecer o mais rápido possível a nossa sede diplomática", acrescentou.

A crise na embaixada brasileira começou na véspera do início da cúpula dos Brics --Brasil, Rússia, índia, China, África do Sul--, com Brasília tomada por um alto grau de segurança. A Venezuela promete ser um ponto de divergência entre os participantes da reunião.

Enquanto em anos anteriores havia um acordo na defesa do diálogo com o governo de Maduro, dessa vez o governo brasileiro, liderado pelo presidente Jair Bolsonaro, tem posição oposta a China e Rússia, que ainda mantêm relações com Maduro.

OCUPAÇÃO

Mais cedo, a assessoria de Belandria informou que funcionários da embaixada liberaram a entrada do ministro-conselheiro do governo interino, Tomás Silva. Ao ingressar no local, ele e outros membros do grupo de apoio a Guaidó encontraram venezuelanos que moram na representação diplomática.

Conforme informações levantadas pelo Itamaraty, ao saber da entrada do grupo de Guaidó, representantes de Maduro que ainda estão no Brasil --entre eles o encarregado de negócios e o adido militar-- foram até o local para tentar retirá-los, e a situação ficou tensa.

Um diplomata brasileiro foi enviado ao local, junto com o batalhão Rio Branco --a tropa da Polícia Militar do Distrito Federal encarregada da segurança das embaixadas-- para tentar mediar a situação.

Do lado de fora, houve momentos de tumulto entre simpatizantes de Guaidó e de Maduro.

Manifestantes da Central Única dos Trabalhadores (CUT) e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST) --pró-Maduro-- e pessoas pró-Guaidó foram para as imediações do local, onde foi feito um cordão de isolamento para impedir que mais pessoas entrassem na representação diplomática.

AVISO

Belandria afirmou em nota que o Itamaraty foi avisado imediatamente da entrada na embaixada, o que os diplomatas brasileiros negam. O Itamaraty disse que foi avisado apenas na manhã desta quarta, quando enviou um representante para mediar a situação.

O governo brasileiro, no entanto, não tem jurisdição sobre a embaixada, que é oficialmente território venezuelano. O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, discutiu a situação com Bolsonaro nesta manhã.

A primeira manifestação oficial do governo brasileiro sobre o episódio partiu do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), ligado à Presidência da República. Inicialmente, o GSI negou que Bolsonaro tenha tomado conhecimento e, muito menos, incentivado a invasão da embaixada por partidários de Guaidó. Numa nova versão da nota, minutos depois, foi retirada essa menção aos aliados do autoproclamado presidente venezuelano.

“O presidente da República jamais tomou conhecimento e, muito menos, incentivou a invasão da embaixada da Venezuela”, disse a nova nota.

Em meio a uma intensa agenda de reuniões dos Brics, do qual é anfitrião, o presidente usou sua conta no Twitter para comentar o episódio.

"Diante dos eventos ocorridos na embaixada da Venezuela, repudiamos a interferência de atores externos. Estamos tomando as medidas necessárias para resguardar a ordem pública e evitar atos de violência, em conformidade com a Convenção de Viena sobre Relações Diplomáticas", disse.

Embora o governo quisesse se manter publicamente distante do episódio, o líder do PSL na Câmara e filho de Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro (SP), divulgou uma mensagem no Twitter do ministro-conselheiro do governo interino, Tomás Silva, após a entrada na embaixada.

Em outra postagem, ele disse que a representação diplomática havia mudado "porque funcionários reconheceram Guaidó como presidente legítimo".

(Reportagem adicional de Ricardo Brito e Anthony Boadle)