Hacker diz que Bolsonaro lhe ofereceu indulto para questionar urnas e assumir suposto grampo contra Moraes

(Reuters) -O hacker Walter Delgatti Neto disse nesta quinta-feira, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) sobre os atos antidemocráticos de 8 de janeiro, que o ex-presidente Jair Bolsonaro lhe ofereceu um indulto em troca de colocar em dúvida a lisura das urnas eletrônicas e de assumir a autoria de um suposto grampo telefônico contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes.

Delgatti disse que as propostas foram feitas em duas conversas que teve com Bolsonaro -- uma presencial e outra por telefone -- ambas intermediadas pela deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) no ano passado, quando Bolsonaro ainda ocupava a Presidência.

O hacker afirmou que o encontro presencial com Bolsonaro ocorreu no Palácio da Alvorada, durou entre uma hora e meia e duas horas, e o objetivo era discutir as urnas eletrônicas.

"Nessa reunião a ideia era falar sobre as urnas, sobre a eleição e sobre a lisura das urnas. A conversa foi bem técnica, até a hora que o presidente me disse: 'olha, a parte técnica eu não entendo, então eu vou enviá-lo ao Ministério da Defesa e lá com os técnicos você explica tudo isso a eles'", disse Delgatti.

"A ideia ali era que eu receberia um indulto do presidente", acrescentou.

Já a conversa sobre o suposto grampo contra Moraes teria ocorrido por telefone, em um posto de gasolina no Estado de São Paulo onde Delgatti afirma ter encontrado Zambelli.

"Ela (Zambelli) pegou o celular dela, nesse celular ela mandou mensagem para alguém e nesse momento o presidente entrou em contato comigo", disse.

"Eu falei com o presidente da República e, segundo ele, eles haviam conseguido um grampo tão esperado à época do ministro Alexandre de Moraes. Segundo ele, esse grampo foi realizado já e teria conversas comprometedoras do ministro, e ele precisava que eu assumisse a autoria desse grampo", afirmou.

Em entrevista à Jovem Pan após as declarações de Delgatti, o ex-presidente disse que o hacker está criando "fantasia" e rejeitou as acusações, mas confirmou um encontro com Delgatti.

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"Ele está inspirado hoje. Teve a reunião e eu mandei ele para o Ministério da Defesa para conversar com os técnicos. Ele esteve lá e morreu o assunto. Ele está voando completamente", disse.

"Tem fantasia aí. Eu só encontrei com ele uma vez no café da manhã, não falei com ele no telefone em momento algum. Como ele pode ter certeza de um grampo? Nós desconhecemos isso."

A defesa de Bolsonaro informou que vai entrar com uma queixa-crime contra o hacker pelas declarações que envolvem o ex-presidente, acusando Delgatti, em uma nota oficial, de apresentar "informações e alegações falsas, totalmente desprovidas de qualquer tipo de prova, inclusive cometendo, em tese, o crime de calúnia."

"A defesa esclarece ainda que, diante de informações prestadas pelo sr. Walter Delgatti Neto, quando de sua passagem pelo Palácio da Alvorada, acerca de suposta vulnerabilidade no sistema eleitoral, o então presidente da República, na presença de testemunhas, determinou ao Ministério da Defesa a apuração das alegações, de acordo com os procedimentos legais e em conformidade com os princípios republicanos, seguindo o mesmo padrão de conduta observado em todas as suas ações enquanto chefe de Estado. Após tal evento, o ex-presidente nunca mais esteve na presença de tal depoente ou com ele manteve qualquer tipo de contato direto ou indireto", acrescentou a defesa.

Também em nota, o advogado Daniel Leon Bialski, que representa a deputada Carla Zambelli, disse que a defesa da parlamentar "rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais" contra ela. Também Acusa Delgatti de mentir e não ter credibilidade.

Em seu depoimento, o hacker também afirmou que Bolsonaro lhe disse que, como ele havia sido responsável pelo escândalo da chamada "Vaza Jato" -- que revelou suposto conluio entre procuradores da Lava Jato e o então juiz responsável pelos processos da operação em Curitiba, Sergio Moro --, a esquerda não poderia atacá-lo caso assumisse a autoria do grampo contra Moraes.

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"A ideia seria o garoto da esquerda assumir esse grampo", afirmou.

Delgatti disse que, na conversa telefônica, Bolsonaro lhe assegurou que ele receberia um indulto e que, se algum juiz determinasse sua prisão, o presidente mandaria prender este juiz.

"Ele disse no telefonema que esse grampo foi realizado por agentes de outro país. Não sei se é verdade esse grampo, porque eu não tive acesso a ele, e disse que em troca eu teria o prometido indulto, e disse assim: 'se caso algum juiz te prender, eu mando prender o juiz'. Ele disse essa frase", afirmou.

Depois ter feito as declarações em respostas principalmente a parlamentares da base governista, Delgatti optou por não responder perguntas formuladas por parlamentares de oposição na segunda parte da sessão, optando pelo direito de permanecer em silêncio, no que foi criticado duramente.

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o depoimento do hacker à CPI é mais uma peça do quebra-cabeça de indícios e provas a serem analisados.

Para o ministro, os acontecimentos recentes -- como o depoimento desta quinta e operação na véspera da Polícia federal envolvendo o advogado Frederick Wassef, da família Bolsonaro -- formam uma "progressão" de produção de provas que demonstram a ocorrência de atos ilegais desde o segundo turno das eleições do ano passado até os atos de janeiro que resultaram na depredação das sedes dos Três Poderes em Brasília.

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(Por Eduardo Simões, em São PauloReportagem adicional de Ricardo Brito, em BrasíliaEdição de Pedro Fonseca)

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