Exaustos da crise, argentinos depositam esperanças em plano de choque econômico de Milei

Por Miguel Lo Bianco e Nicolás Misculin

BUENOS AIRES (Reuters) - Javier Milei tomará posse como presidente da Argentina no domingo, selando a ascensão abrupta de um novato na política que está prometendo uma terapia de "choque" e cortes profundos nos gastos para solucionar a pior crise econômica do país em décadas.

O economista e ex-jornalista de TV está carregando as esperanças de 45 milhões de argentinos que têm sido duramente atingidos por uma inflação de 150%. Quatro em cada dez pessoas vivem na pobreza, controles monetários foram implantados para proteger o peso e o país é, de longe, o maior devedor do Fundo Monetário Internacional (FMI).

"Quero que as coisas melhorem", disse o pedreiro José Luis Rodriguez, de 62 anos, enquanto tomava chá em sua casa nos arredores de Buenos Aires. Ele deseja ter dinheiro para reformar sua casa e tirar férias.

"Eu só quero ter o dinheiro suficiente. Quero ter uma vida decente e real", disse o pai de seis filhos, explicando que ganha cerca de 400 dólares por mês trabalhando sete dias por semana. "Se eu não trabalhar, não teremos nada para comer."

Argentinos como Rodriguez -- que votou em Milei -- estão por trás do que tem sido uma das mudanças políticas mais dramáticas da Argentina em décadas, embora o autodenominado anarcocapitalista tenha moderado sua retórica desde que venceu o segundo turno da eleição de novembro.

Sua vitória foi estimulada pela raiva dos eleitores contra o governo peronista no poder, que não conseguiu deter a queda econômica do país. Durante os quatro anos de gestão, os preços subiram 930%, enquanto o peso perdeu mais de 80% de seu valor em relação ao dólar.

Com apenas alguns assentos no Congresso para sua coalizão A Liberdade Avança, Milei foi forçado a se aliar a conservadores de centro-direita, preenchendo seu gabinete com moderados, inclusive na liderança do Ministério da Economia e do banco central.

Milei enfrenta sérios obstáculos para levar adiante alguns de seus planos mais radicais, como a dolarização da economia e o fechamento do banco central. Ele já atenuou as críticas aos principais parceiros comerciais da Argentina, Brasil e China.

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"Na campanha, Milei fez várias propostas específicas, especialmente sobre a economia, que ele não conseguirá realizar, em parte devido à falta de apoio legislativo", disse o analista político Federico Aurelio, presidente da consultoria Aresco.

"O principal fator para que ele mantenha o apoio não será o cumprimento dessas promessas, mas se a situação econômica do país e das famílias realmente melhorar."

Milei, que provavelmente se concentrará inicialmente nos cortes de gastos para reverter um profundo déficit fiscal, será empossado no Congresso, onde receberá o bastão de comando do presidente Alberto Fernández. Espera-se que ele faça um discurso franco sobre a crise econômica e seus planos para solucioná-la.

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