Pau que bateu em Silvio Almeida precisa bater em Juscelino Filho
Entre as impertinências comuns a todos os governos, a mais incômoda é a mania de confundir cargo público com propriedade. No caso de Silvio Almeida, Lula acertou ao ejetar a suspeita de assédio sexual do trono de ministro de Direitos Humanos. Com Juscelino Filho, a inércia de Lula concede à corrupção já investigada e indiciada estabilidade no emprego de ministro das Comunicações.
Nos dois episódios, Lula bateu o bumbo da presunção de inocência e soprou o clarim do direito de defesa. Mas apenas Silvio Almeida foi impedido de usar a estrutura governamental como escudo. Juscelino Filho ainda percorre os salões de Brasília como se nada tivesse sido descoberto sobre ele. Finge-se que a PF não o indiciou por corrupção, lavagem de dinheiro e organização criminosa.
Em relação a Silvio Almeida, a reação foi categórica. Assim que o jornalismo rasgou as cortinas, iluminando o que a ministra Anielle Franco já havia clareado nos bastidores do governo, Lula decretou: "Alguém que pratica assédio não vai ficar no governo". Foi mais brando com a corrupção de Juscelino Filho. Só será demitido "se o indiciamento for aceito pela Procuradoria-Geral da República."
Um monarca pode considerar que uma coisa é sempre totalmente diferente da outra, exceto quando os súditos percebem que as duas se assemelham. Mesmo os observadores mais incautos percebem o contrassenso. Pau que bateu em Silvio Almeida precisa bater em Juscelino Filho.
Sugere-se a Lula que utilize o mesmo comunicado já redigido pelo Planalto. Basta trocar o nome do demitido, a logomarca do ministério e a motivação. A nota oficial ficaria assim:
"Diante das graves denúncias contra o ministro Juscelino Filho e depois de convocá-lo para uma conversa no Palácio do Planalto, o presidente Lula decidiu pela demissão do titular da pasta das Comunicações.
O presidente considera insustentável a manutenção do ministro no cargo considerando a natureza das acusações de corrupção. A Polícia Federal já promoveu os indiciamentos devidos.
O Governo Federal reitera seu compromisso com a moralidade pública e reafirma que nenhuma forma de violência contra os cofres governamentais será tolerada."
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