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Ataque de Israel em 2023 matou jornalista 'claramente identificável', diz ONU

Em 15 de outubro, dois dias após o ataque, houve protestos no Líbano contra a morte de Issam Abdallah Imagem: Zohra Bensemra/Reuters

David Gauthier;Villars;Laila Bassam;Tom Perry;

13/03/2024 15h06Atualizada em 13/03/2024 15h40

Um tanque israelense matou o repórter da Reuters Issam Abdallah no Líbano ao disparar dois projéteis de 120 mm contra um grupo de "jornalistas claramente identificáveis", violando a lei internacional, segundo uma investigação da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre o incidente de 13 de outubro do ano passado.

A investigação da Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), resumida em um relatório visto pela Reuters, disse que seu pessoal não registrou nenhuma troca de tiros na fronteira entre Israel e o Líbano por mais de 40 minutos antes do tanque Merkava israelense abrir fogo.

"O disparo contra civis, nesse caso jornalistas claramente identificáveis, constitui uma violação da Resolução 1701 (2006) do Conselho de Segurança das Nações Unidas e do direito internacional", disse o relatório da Unifil.

O relatório de sete páginas, datado de 27 de fevereiro, diz ainda: "Avalia-se que não houve troca de tiros através da Linha Azul no momento do incidente. O motivo dos ataques contra os jornalistas não é conhecido".

De acordo com a resolução 1701, adotada em 2006 para pôr fim à guerra entre Israel e os combatentes libaneses do Hezbollah, as forças de paz da ONU foram destacadas para monitorar um cessar-fogo ao longo da linha de demarcação de 120 km, ou Linha Azul, entre Israel e o Líbano.

Como parte de sua missão, as tropas da ONU registram as violações do cessar-fogo e investigam os casos mais graves.

Além de matar Abdallah, os dois disparos do tanque também feriram seis outros jornalistas que estavam no local.

Questionado sobre o relatório da Unifil, o porta-voz das Forças de Defesa de Israel (IDF), Nir Dinar, disse que o Hezbollah atacou as IDF perto da comunidade israelense de Hanita em 13 de outubro. As IDF responderam com artilharia e fogo de tanque para eliminar a ameaça e, posteriormente, receberam um relatório de que jornalistas haviam sido feridos.

"As IDF lamentam qualquer ferimento em pessoas não envolvidas e não atira deliberadamente em civis, incluindo jornalistas", disse Dinar. "As IDF consideram a liberdade de imprensa de extrema importância e esclarecem que estar em uma zona de guerra é perigoso."

Ele disse que o Mecanismo de Apuração e Avaliação de Fatos do Estado-Maior, que é responsável pela análise de eventos excepcionais, continuará a examinar o incidente.

De acordo com o site das IDF, a equipe de apuração de fatos submete suas análises ao departamento de assuntos jurídicos dos militares israelenses, que decide se um caso merece uma investigação criminal.

Imagens do incidente

A editora-chefe da Reuters, Alessandra Galloni, pediu a Israel que explique como o ataque que matou Abdallah, de 37 anos, poderia ter acontecido e que responsabilize os culpados.

O relatório da Unifil foi enviado à Organização das Nações Unidas em Nova York em 28 de fevereiro e foi compartilhado com as Forças Armadas libanesas e israelenses, disseram duas pessoas familiarizadas com o assunto.

"As IDF devem conduzir uma investigação sobre o incidente e uma revisão completa de seus procedimentos na época para evitar que o fato se repita", disse o relatório em suas recomendações. "As IDF devem compartilhar as conclusões de sua investigação com a Unifil."

Para sua investigação, a Unifil enviou uma equipe para examinar o local em 14 de outubro, e também recebeu contribuições das Forças Armadas libanesas e de uma testemunha não identificada que estava presente na colina quando os ataques ocorreram, disse o relatório.

Os detalhes dos incidentes na área de operações da Unifil são incluídos nos relatórios regulares do secretário-geral da ONU sobre a implementação da resolução 1701 do Conselho de Segurança. As investigações da Unifil, no entanto, não costumam ser divulgadas e a Reuters não conseguiu determinar se haveria algum acompanhamento da ONU.

O porta-voz da Unifil, Andrea Tenenti, disse que não estava em posição de discutir a investigação.

As conclusões da Unifil dão mais apoio a uma investigação da Reuters publicada em 7 de dezembro, que mostrou que sete jornalistas da Agence France-Presse, Al Jazeera e Reuters foram atingidos por dois tiros de 120 mm disparados por um tanque a 1,34 km de distância em Israel.

O grupo de repórteres estava filmando bombardeios transfronteiriços à distância em uma área aberta em uma colina perto do vilarejo libanês de Alma al-Chaab por quase uma hora antes do ataque.

No dia seguinte, as IDF disseram que já tinha imagens do incidente e que ele estava sendo investigado. As IDF não publicaram um relatório de suas conclusões até o momento.

A Unifil disse em seu relatório que enviou uma carta e um questionário às IDF solicitando sua assistência. As IDF responderam com uma carta, mas não responderam ao questionário.

A Reuters não viu uma cópia da carta das IDF, cujo conteúdo foi resumido no relatório da Unifil.

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