Após seis meses de guerra em Gaza, Israel enfrenta isolamento cada vez maior
Por James Mackenzie e Nidal al-Mughrabi
JERUSALÉM/CAIRO (Reuters) - Seis meses após o início da guerra em Gaza, a morte de um grupo de trabalhadores humanitários por um ataque aéreo israelense resumiu tanto a terrível crise humanitária quanto a falta de uma saída clara para um conflito que está deixando Israel cada vez mais isolado.
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O ataque na noite de segunda-feira, que matou sete funcionários do grupo de ajuda World Central Kitchen (WCK), incluindo seis estrangeiros, irritou até mesmo alguns dos aliados mais próximos de Israel, aumentando a crescente pressão pelo fim dos combates.
Os militares de Israel reconheceram que o ataque foi realizado por engano por suas forças e pediram desculpas pelas mortes "não intencionais" dos sete, que incluíam cidadãos de Reino Unido, Austrália e Polônia, um cidadão americano-canadense e um palestino.
Mas isso fez pouco para aliviar o alarme no exterior, onde a opinião pública, mesmo em países tradicionalmente amigáveis, como Reino Unido, Alemanha ou Austrália, tem se posicionado contra a campanha israelense em Gaza, lançada após o ataque liderado pelo Hamas contra Israel em 7 de outubro.
O presidente norte-americano, Joe Biden, que vem sofrendo pressão de seus próprios partidários para acabar com os combates, disse que estava indignado com o ataque ao comboio. Na quinta-feira, após uma ligação com o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, a Casa Branca exigiu "medidas concretas e mensuráveis para reduzir os danos aos civis" e disse que o futuro apoio dos EUA seria determinado pelas ações de Israel.
MAIOR ACESSO À AJUDA
Nesta sexta-feira, Netanyahu ordenou a reabertura da passagem de Erez para o norte de Gaza e o uso temporário do porto de Ashdod, no sul de Israel, bem como o aumento do acesso da ajuda jordaniana através da passagem de Kerem Shalom, no sul de Gaza.
Com Gaza em ruínas, a maioria dos 2,3 milhões de habitantes foi forçada a deixar suas casas e agora depende de ajuda para sobreviver, uma amarga humilhação durante o mês sagrado do Ramadã, quando os muçulmanos de todo mundo consomem as tradicionais refeições e sobremesas do Ramadã para quebrar o jejum após o pôr do Sol.
"Tínhamos alguma esperança antes do Ramadã, mas essa esperança desapareceu na noite anterior ao início do mês de jejum", disse Um Nasser Dahman, de 33 anos, que agora vive com sua família de cinco pessoas em um acampamento na cidade de Rafah, no sul do país, onde mais da metade da população de Gaza está abrigada.
"Estávamos bem antes da guerra, mas nos tornamos dependentes da ajuda limitada que existe e de nossos parentes", disse ela, por meio de mensagens.
Mesmo antes do ataque ao comboio, Israel já estava isolado diplomaticamente, com a Assembleia Geral da ONU pedindo repetidamente por cessar-fogo humanitário e sob forte pressão para aumentar a distribuição de ajuda em Gaza, onde grupos de ajuda dizem que a fome é iminente.
Embora Israel afirme que suas forças tenham matado milhares de combatentes do Hamas e destruído a maioria de suas unidades de combate, após meses de guerra, as tropas israelenses ainda estão lutando contra grupos de combatentes no norte e no centro de Gaza, em áreas que aparentemente foram liberadas nos estágios iniciais da guerra.
Até o momento, Netanyahu tem resistido à pressão para mudar de rumo, insistindo que o Hamas continua sendo uma ameaça existencial para Israel que deve ser destruída antes que a paz duradoura possa voltar.
"A vitória está ao nosso alcance. Está muito próxima, e não há substituto para a vitória", disse ele a uma delegação de membros republicanos do Congresso em Jerusalém na quinta-feira, apelando por mais apoio orçamentário, horas antes da ligação com Biden.
CICLO SE REPETE
A população israelense continua apoiando amplamente os objetivos de guerra de destruir o Hamas e trazer de volta 134 reféns ainda mantidos em Gaza. Mas o próprio Netanyahu enfrenta um crescente movimento de protesto e exigências de novas eleições que, segundo as pesquisas de opinião, ele perderia com folga.
"Tenho a firme convicção de que todos os que estão fora de Israel pedindo um cessar-fogo não entendem a situação aqui", disse Wendy Carol, de 73 anos, escritora e fundadora de uma start-up de Jerusalém. "Tivemos tantas incursões e invasões e vamos nos manter como um país democrático."
No entanto, ela afirmou: "Não confio no primeiro-ministro. Ele é uma força divisória nesta nação e muitas, muitas pessoas se sentem assim, de todas as origens."
Embora negociações de paz estejam em andamento, as esperanças de um avanço que poderia garantir uma pausa nos combates e permitir o retorno dos reféns foram repetidamente frustradas e os líderes do Hamas dizem que podem continuar lutando por muito mais tempo.
"Seis meses se passaram e as Brigadas Al-Qassam ainda são capazes de manter a luta contra o exército de ocupação sionista", disse o oficial sênior do Hamas Sami Abu Zuhri.
A guerra foi iniciada depois de um ataque liderado pelo Hames, no qual mais de 250 reféns foram sequestrados e cerca de 1.200 pessoas foram mortas, segundo os registros israelenses, na pior perda de vidas em um único dia na história de Israel. A campanha foi a mais sangrenta de todos os tempos para os palestinos, com mais de 33.000 mortos até agora, de acordo com as autoridades de saúde de Gaza.
"Acredito que tudo tem um fim, a guerra vai acabar", disse Um Nasser Dahman em Gaza. "Mas quando?"