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Hostilidade e desinformação inibem voluntários e atrapalham ajuda no RS, diz Defesa Civil

Rmador pré-olímpico brasileiro Piedro Tuchtenhagen caminha após carregar um barco usado para resgatar vítimas de enchentes em Porto Alegre em 10 de maio de 2024 Imagem: Adriano Machado/REUTERS

Débora Ely;

15/05/2024 13h21Atualizada em 15/05/2024 13h21

Episódios de hostilidade contra servidores públicos que atuam no socorro às vítimas das enchentes no Rio Grande do Sul e de desinformação sobre resgates e doações afugentam voluntários e prejudicam a assistência aos afetados, disseram representantes da Defesa Civil à Reuters.

O problema acontece em meio a uma crise humanitária com 2,1 milhões de atingidos, segundo o governo gaúcho, na qual voluntários têm sido indispensáveis na ajuda à população.

Há uma semana, um influenciador digital foi ao depósito de mantimentos da Defesa Civil municipal de Porto Alegre e gravou um vídeo afirmando ter sido impedido de pegar água para um abrigo. Os servidores explicaram que era necessário fazer um cadastro e que policiais civis distribuíam as garrafas.

Com a recusa do influenciador em deixar o local e o tumulto causado, policiais tentaram contê-lo. As imagens foram para as redes sociais acompanhadas da acusação de que autoridades estariam retendo doações.

No depósito, o impacto concreto do caso foi a redução no número de voluntários e a necessidade de reforço na segurança. Na tarde de segunda-feira, dois policiais civis, um deles com um fuzil à mostra, faziam a guarda do local.

No dia do episódio, havia 12 voluntários no depósito, segundo uma servidora da Defesa Civil municipal que pediu para não ter o nome publicado por temer represálias. Na segunda-feira, quando o local tinha 280 quilos de colchões com destino definido para serem carregados em caminhões, apenas cinco voluntários apareceram. Duas mulheres disseram a integrantes do órgão que não iriam mais pois se sentiam inseguras.

"Os voluntários estão se sentindo coagidos e expostos, com medo de que alguém grave um novo vídeo e comece a persegui-los. Alguns não quiseram mais vir, e nós não temos como obrigar ninguém", disse a servidora.

Desconhecimento e desinformação

Assim como todos os pontos de ajuda mantidos pelo poder público, o depósito segue regras para a distribuição de itens, como o preenchimento de formulários para controle dos locais mais necessitados e repressão a roubos. Até domingo, o centro fazia entregas apenas para os 157 abrigos cadastrados na prefeitura. Agora, atende também moradores que estão recebendo desalojados.

O desconhecimento sobre tais processos é um dos focos de tensão entre a população e os servidores, e se soma à desinformação deliberada, segundo a funcionária da Defesa Civil.

Um episódio semelhante ao caso do depósito municipal, protagonizado pelo mesmo influenciador, aconteceu no Centro Logístico da Defesa Civil do Estado, também em Porto Alegre. O homem filmou embalagens fechadas de água e disse que estava "tudo parado".

Depois disso, a Defesa Civil gaúcha precisou fazer um pente-fino nos voluntários e limitar o acesso ao local. Na segunda-feira, equipes da Brigada Militar, da Polícia Civil e do Exército faziam o controle de acesso.

"Informações inverídicas veiculadas, de que nós estávamos segurando doações, desestimularam muito o trabalho voluntário", afirmou à Reuters a tenente Sabrina Ribas, porta-voz da Defesa Civil estadual.

Civil salva civil

Nas redes sociais, usuários criticam o que consideram como burocracia estatal e reforçam o bordão "civil salva civil". Os críticos comparam a articulação entre pessoas físicas à suposta lentidão do setor público — muitas vezes responsável por trabalhos mais complexos, como reparos de infraestrutura e resgates com aeronaves, no entanto.

Outros se valem do deboche para acusar servidores de pouco empenho. Um vídeo diz que bombeiros guardaram 40 motos aquáticas para evitar que sofressem danos nos resgates, o que foi desmentido pela corporação. Outro mostra militares pegando um lanche de voluntários em Porto Alegre e afirma que eles "não querem trabalhar, só querem comer".

"Nós temos policiais militares que foram afetados diretamente pelas enchentes, que perderam parte da sua vida material ou absolutamente tudo e que permanecem trabalhando. Então, ouvir ou ler algum ataque às instituições certamente traz um desestímulo para eles", afirmou à Reuters o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Cláudio dos Santos Feoli.

O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, reconheceu que o auxílio da sociedade civil é fundamental.

"Temos muitos heróis e muitas heroínas. Homens e mulheres que não mediram esforços para salvar a nossa gente que foi atingida pela maior tragédia ambiental da nossa história. Me faltam palavras para descrever o orgulho que sinto ao ver a bravura do nosso povo", escreveu Leite na segunda-feira no Instagram.

A Polícia Civil do Estado investiga episódios classificados como "fake news" e golpes. Há 24 inquéritos abertos. Até agora, 36 contas bancárias, sites, perfis ou posts nas redes sociais foram derrubados com aval da Justiça.

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