Conservadores franceses se irritam após chefe do partido defender acordo com extrema-direita

Por Elizabeth Pineau e Louise Dalmasso

PARIS (Reuters) - O líder do partido conservador Os Republicanos defendeu nesta terça-feira uma aliança entre seus candidatos e o Reunião Nacional de extrema-direita de Marine Le Pen na eleição parlamentar antecipada -- uma guinada política com amplas repercussões.

“Nós dizemos as mesmas coisas, então vamos parar de inventar uma oposição imaginária”, disse o líder dos Republicanos (LR), Éric Ciotti, à emissora TF1 TV. “É o que a maioria dos nossos eleitores quer. Eles nos dizem: ‘busque um acordo’.”

Os comentários de Ciotti significam que um consenso de décadas entre os partidos tradicionais para unir forças para manter a extrema-direita longe do poder está explodindo, após a inesperada decisão do presidente Emmanuel Macron de convocar eleições antecipadas.

A decisão de Ciotti também pareceu levar os Republicanos (LR) -- herdeiros dos partidos de Charles de Gaulle e Jacques Chirac -- à beira do colapso, com vários dos seus parlamentares preparando-se para ir embora.

“É inimaginável para mim (e para muitos parlamentares do LR) que possa haver o menor acordo, a menor aliança, mesmo local, ou pessoal, com o RN (Reunião Nacional)", disse Philippe Gosselin, parlamentar do LR, à Reuters, acrescentando que os parlamentares do LR criariam um novo grupo.

Veteranos do partido afirmam que Ciotti está isolado, mas que ele controla o partido e eles poderiam ter dificuldades para cumprir o prazo até o fim de semana para apresentar candidatos fora das estruturas partidárias.

Enquanto isso, em meio a vários rápidos acontecimentos, a sobrinha de Le Pen, Marion Marechal, disse que o partido menor de extrema-direita de Éric Zemmour, ao qual ela pertence, não chegou a um acordo eleitoral com o RN.

E a esquerda dividida da França prometeu indicar candidatos conjuntos, mas ainda não fechou um acordo formal, acrescentando incerteza ao resultado das votações de 30 de junho e 7 de julho.

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Espera-se que o RN, anti-imigração e cético em relação à União Europeia, surja como a principal força, embora sem conseguir maioria absoluta, segundo uma pesquisa de opinião publicada na segunda-feira.

O RN, portanto, está procurando aliados para garantir o controle do Parlamento e imediatamente deu as boas-vindas à abertura apresentada por Ciotti.

O LR já era uma sombra de si mesmo, tendo perdido membros fundamentais para o partido centrista de Macron e para a extrema-direita. Uma fonte parlamentar do LR estimou que apenas cerca de 10 dos 61 parlamentares do LR aceitariam esse acordo.

Jordan Bardella, presidente do Reunião Nacional, disse à emissora France 2 posteriormente que seu partido apoiará “várias dezenas” de atuais parlamentares Republicanos e seus candidatos na eleição.

O campo de Macron foi rápido em condenar as declarações de Ciotti, que o ministro do Interior, Gérald Darmanin, disse serem uma reminiscência do acordo de Munique de 1938, assinado pela França e pelo Reino Unido com a Alemanha nazista. Nas ruas de Paris, alguns eleitores ficaram chocados.

“Sinto uma dor imensa e quase quero chorar”, disse o advogado Franck Morel, de 55 anos. “Acho que é uma traição impensável à herança do gaullismo.”

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Outros partidos tradicionais à esquerda e à direita também ficaram mais fracos desde que Macron foi eleito presidente pela primeira vez em 2017, numa plataforma nem de esquerda nem de direita, com um partido emergente que queria remodelar a paisagem política da França.

Todos os partidos políticos franceses buscam encontrar alianças -- e sobreviver -- desde que Macron anunciou a realização de eleições antecipadas, na sequência de um fraco desempenho do seu partido Renascimento nas eleições para o Parlamento Europeu, no domingo.

(Reportagem adicional de Tassilo Hummel, Benoit Van Overstraeten, Michel Rose, Nicolas Delame, Blandine Henault e Sudip Kar-Gupta)

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