Em eleição menos polarizada do que se esperava, centrão sai mais uma vez vitorioso

Por Lisandra Paraguassu

BRASÍLIA (Reuters) - Uma eleição municipal que se imaginava que seria marcada pela polarização entre candidatos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-presidente Jair Bolsonaro terminou, mais uma vez, com uma vitória do chamado centrão, com partidos do grupo conquistando o maior número de prefeituras nas disputas municipais de domingo.

PSD e MDB conquistaram, respectivamente, 888 e 863 prefeituras, sendo os dois maiores vencedores do pleito municipal, com PP (752 cidades) e União Brasil (590) logo a seguir, de acordo com levantamento feito pelo portal G1, com dados atualizados até as 22h30 de domingo.

Em um movimento típico do centrão, os quatro partidos ou são da base do presidente Lula ou trabalham em proximidade com o Palácio do Planalto, apesar de uma identificação maior das legendas com a direita, principalmente PP e União Brasil -- assim como fizeram no governo Bolsonaro e em administrações anteriores.

Já o PL, partido de Bolsonaro, não conseguiu alcançar a meta de entre 800 e 900 prefeituras projetadas pelo presidente da legenda, Valdemar Costa Neto. O PL conquistou 523 prefeitos -- um aumento de 51,3% em relação a 2020.

Sem o envolvimento tão direto de Lula na campanha desta vez, o PT ficou em nono lugar entre os partidos com mais prefeitos eleitos, com 252 -- um crescimento de 31% em relação a 2020. O número ficou muito longe do recorde do partido, em 2012, quando elegeu 635 prefeitos, mas, na avaliação do partido, foi uma retomada depois do resultado de 2020 -- o pior desde 1996.

As maiores vitórias de Lula nesse primeiro turno foram de candidatos não petistas apoiados por ele e que, por suas próprias avaliações, não precisavam de seu apoio explícito: Eduardo Paes (PSD), no Rio de Janeiro, e João Campos (PSB), em Recife, com vitórias significativas contra candidatos bolsonaristas -- especialmente no Rio, onde Bolsonaro se empenhou pessoalmente por Alexandre Ramagem (PL).

Na disputa das capitais em geral, no entanto, o PL levou a melhor. O partido venceu no primeiro turno em duas, Maceió e Rio Branco, enquanto o PT não levou nenhuma. O partido de Bolsonaro ainda chegou ao segundo turno em nove capitais com nomes do próprio partido, enquanto o PT chegou a apenas quatro.

No segundo turno, o maior embate entre Lula e Bolsonaro será em São Paulo.

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Com apoio do presidente, Guilherme Boulos (PSOL) conseguiu chegar no segundo turno praticamente empatado com o prefeito Ricardo Nune (MDB) -- 29,48% a 29,07% dos votos válidos --, e agora deve cobrar uma participação mais efetiva de Lula em sua campanha.

Do outro lado, Nunes chegou ao segundo turno com um apoio mais do que discreto de Bolsonaro que, apesar de ter indicado o vice, praticamente não apareceu na campanha.

Agora, no entanto, os dois lados devem investir seus nomes de peso na disputa com mais afinco.

Em entrevista depois do resultado, Bolsonaro afirmou que o PL vai "mergulhar de cabeça" na campanha de Nunes, mas não prometeu presença. Ao mesmo tempo, no entanto, disse que ia viajar às capitais onde o PL tem candidatos próprios.

"Talvez em São Paulo não preciso me empenhar muito porque os cerca de 30% (de Pablo Marçal, terceiro colocado pelo PRTB com 28,14% dos votos válidos) não vão para o Boulos", disse Bolsonaro.

Lula não se manifestou após a votação, mas a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, prometeu que o partido vai se empenhar por Boulos, que tem como vice a petista Marta Suplicy.

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"Não posso deixar de falar de São Paulo, da importância de ter o Boulos no segundo turno, mostrando a resiliência das forças de esquerda. Vamos nos articular com nossa militância e agora, a partir de segunda, é uma outra eleição para fazer de Boulos o prefeito de São Paulo", disse.

(Reportagem de Lisandra Paraguassu)

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