Insucesso de Kamala em tornar aborto relevante na campanha diminui esperança de lei federal nos EUA

Por Gabriella Borter

(Reuters) - Uma parte vital da campanha presidencial derrotada da democrata Kamala Harris foi aproveitar a onda de indignação e ativismo político das mulheres desencadeada pela decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos em 2022 que anulou o direito federal ao aborto.

No entanto, o tema não conseguiu gerar a participação que a vice-presidente precisava em sua campanha, pois outros tópicos se mostraram mais relevantes. Apenas 14% dos eleitores citaram o aborto como sua principal questão na disputa pela Casa Branca, enquanto 32% citaram a economia, segundo uma pesquisa de boca de urna da Edison Research.

Embora as eleitoras tenham favorecido Kamala em relação ao republicano Donald Trump, 53% a 45%, a democrata ficou abaixo dos 57% de votos das mulheres que o presidente norte-americano, Joe Biden, recebeu em 2020, enquanto o número de Trump foi 3 pontos percentuais acima de 2020.

A democrata teve 51% do apoio dos eleitores com menos de 45 anos, que tendem a citar o aborto como uma questão mais importante do que os eleitores mais velhos, enquanto o apoio a Trump nesse grupo aumentou 4 pontos, para 46%, em relação a uma pesquisa de boca de urna de 2020.

A decisão da Suprema Corte de maioria conservadora em 2022, por 6 a 3, de anular a histórica decisão Roe vs Wade de 1973, apoiada por três juízes nomeados por Trump, desencadeou uma onda de leis restritivas ao aborto em Estados controlados pelos republicanos.

Essa decisão e as proibições estaduais subsequentes foram amplamente impopulares e creditadas por alimentar uma série de vitórias de medidas eleitorais democratas e de direitos ao aborto nos dois anos seguintes.

A campanha de Kamala foi feita com base na mensagem de que Trump iria reduzir ainda mais o acesso à saúde reprodutiva, incluindo contracepção e tratamentos de fertilidade, mas que ela apoiaria uma lei federal para restaurar o direito ao aborto em todo o país.

Com a derrota da democrata, ativistas preveem que mais restrições estão por vir.

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"Acreditamos que ele (Trump) e as pessoas ao seu redor buscarão restringir o acesso à saúde reprodutiva de forma geral", disse Deirdre Schifeling, diretora política e de defesa da União Americana das Liberdades Civis.

Embora Trump tenha demonstrado interesse em uma proibição federal ao aberto após 15 semanas de gestação, ele garantiu mais recentemente que deixaria a questão para os Estados.

"O presidente Trump tem sido consistente em apoiar os direitos dos Estados de tomar decisões sobre o aborto", disse Karoline Leavitt, porta-voz da equipe de transição de Trump, quando perguntada sobre quais políticas de saúde reprodutiva ele adotaria.

Segundo a pesquisa, 45% dos eleitores em todo o país disseram que confiavam mais em Trump do que em Kamala na questão do aborto, segundo as pesquisas de boca de urna, enquanto 49% disseram que confiavam mais na democrata nessa questão.

Alguns eleitores sentiram que poderiam apoiar o direito ao aborto e Trump ao mesmo tempo, segundo os resultados da eleição. Trump venceu no Missouri e na Flórida, ambos Estados onde as medidas de votação sobre o direito ao aborto receberam apoio majoritário, embora a votação na Flórida tenha ficado aquém do limite de 60% necessário para ser aprovada.

Alguns grupos antiaborto estão ansiosos para pressionar por novas políticas em um governo Trump.

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"Agora começa o trabalho para desmantelar as políticas pró-aborto do governo Biden-Harris", disse Marjorie Dannenfelser, presidente do grupo antiaborto Susan B. Anthony Pro-Life America.

Ela disse que seu grupo conseguiu atingir milhões de eleitores e convencê-los de que a plataforma democrata sobre o direito ao aborto era radical demais, e conclamou o Partido Republicano a fortalecer sua posição sobre a questão e reconhecer um "direito inalienável à vida" de acordo com a 14ª Emenda desde o momento da concepção.

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