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Manmohan Singh, relutante ex-premiê da Índia, morre aos 92 anos

26/12/2024 17h18

Por Devjyot Ghoshal e Matthias Williams

NOVA DELHI (Reuters) - Descrito como um "rei relutante" na sua primeira passagem como primeiro-ministro, Manmohan Singh é considerado um dos líderes mais bem-sucedidos da Índia.

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Primeiro sikh a ocupar o cargo, o político, que tinha 92 anos, recebia tratamento para doenças relacionadas à sua idade e morreu após ser levado ao hospital devido a uma súbita perda de consciência ocorrida nesta quinta-feira.

Ele é tido como responsável por colocar a Índia rumo a um crescimento econômico sem precedentes, além de tirar milhões de pessoas da pobreza. Também teve um segundo mandato, algo raro no país.

O atual premiê, Narendra Modi, disse que “a Índia chora a morte de um de seus mais notáveis líderes, o Dr. Manmohan Singh Ji", aproveitando para elogiar os feitos do economista que se tornou político.

Nascido em uma família pobre em região controlada pelos britânicos que hoje é do Paquistão, Singh estudou à luz de velas para conseguir uma vaga na Universidade de Cambridge, antes de também ingressar em Oxford, obtendo o doutorado com uma tese sobre o papel das exportações e do livre comércio na economia indiana.

Ele se tornou um economista respeitado, chefe do Banco Central da Índia e conselheiro do governo, mas não tinha planos aparentes para uma carreira política quando se tornou ministro das Finanças, em 1991.

Enquanto esteve no cargo, até 1996, Singh foi o arquiteto de reformas que salvaram a economia da Índia de uma grave crise no balanço de pagamentos, promoveu desregulação de mercados e outras medidas que abriram o país para o mundo.

Ele fez uma famosa referência ao escritor e poeta Victor Hugo em seu primeiro discurso sobre o orçamento: “Nenhum poder na Terra pode parar uma ideia quando a hora chega”. E acrescentou: “O surgimento da Índia como uma grande potência econômica mundial é uma dessas ideias”.

A ascensão ao cargo de primeiro-ministro, em 2004, foi ainda mais inesperada.

O pedido veio de Sonia Gandhi, que liderou o partido de centro-esquerda do Congresso indiano a uma surpreendente vitória eleitoral. Italiana de nascimento, ela temia que sua ancestralidade fosse usada por opositores nacionalistas hindus para atacar o governo, caso fosse ela a escolhida para liderar a nação.

À frente do país durante um período de crescimento econômico sem precedentes, o governo de Singh distribuiu os resultados da recém-gerada riqueza indiana, introduzindo modelos de bem-estar social como programas de emprego para os pobres que viviam no campo.

Em 2008, seu governo também obteve um importante acordo que permitiu, pela primeira vez em três décadas, o comércio pacífico de energia nuclear com os Estados Unidos, melhorando as relações entre Nova Délhi e Washington.

Mas seus esforços para abrir ainda mais a economia foram frequentemente frustrados por problemas políticos dentro de seu próprio partido, além de exigências vindas de legendas que formavam a sua coalizão.

E, embora fosse muito respeitado pelos líderes mundiais, na própria Índia ele sempre sofreu com a percepção de que a verdadeira líder do governo era Sonia Gandhi.

Viúva do ex-primeiro-ministro Rajiv Gandhi, cuja família dominou a política indiana desde a independência do Reino Unido, em 1947, ela permaneceu como líder do partido no Congresso e tomava decisões importantes com certa frequência.

Conhecido pelo estilo simples e uma reputação de honestidade, Singh não era visto como corrupto, apesar de ter sofrido ataques por não punir membros de seu governo que protagonizaram uma série de escândalos em seu segundo mandato, fato que provocou grandes protestos nas ruas.

Nos últimos anos de seu mandato, o crescimento da Índia foi vacilante. Em 2012, seu governo foi transformado em minoria, após o maior aliado da legenda no Congresso abandonar a coalizão em protesto contra a entrada de supermercados estrangeiros no país.

Dois anos depois, o Partido Bharatiya Janata, liderado por Narendra Modi, conquistou maioria no Congresso. Modi prometeu reverter o marasmo econômico, acabar com a corrupção e trazer crescimento inclusivo para o interior .

"Eu acredito honestamente que a história será mais gentil comigo do que a mídia contemporânea ou, de certa forma, os partidos de oposição no Parlamento", afirmou certa vez Singh.

Ele deixa mulher e três filhas.

(Reportagem de Devjyot Ghoshal e Matthias Williams, reportagem adicional de YP Rajesh e Urvi Dugar)

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