Agência da ONU para palestinos encerrará operação em Jerusalém Oriental após proibição de Israel

JERUSALÉM (Reuters) - Dezenas de milhares de refugiados palestinos em Jerusalém Oriental, ocupada por Israel, devem ficar sem educação, assistência médica e outros serviços fornecidos pela agência UNRWA, da ONU, após uma proibição israelense sobre a organização entrar em vigor na próxima quinta-feira.

O governo de Israel ordenou que a UNRWA desocupasse seu complexo em Jerusalém Oriental e interrompesse as operações, de acordo com uma lei aprovada no ano passado que proibiu a agência e seu contato com autoridades israelenses.

Nos escritórios da UNRWA no bairro de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, os trabalhadores estavam empacotando caixas e carregando um caminhão nesta segunda-feira.

"É uma decisão inaceitável", disse Jonathan Fowler, porta-voz da UNRWA, formalmente intitulada Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina no Oriente Próximo.

"As pessoas que atendemos... não podemos dizer a elas o que acontecerá com nossos serviços a partir do final desta semana".

Israel não anunciou disposições para substituir as atividades da UNRWA, e o gabinete do primeiro-ministro israelense não respondeu a um pedido de comentário em um primeiro momento.

Há décadas a UNRWA administra escolas e clínicas em Jerusalém Oriental -- a parte leste da cidade que Israel ocupa desde a guerra de 1967 -- para dezenas de milhares de refugiados palestinos sem nacionalidade.

"Temos tudo aqui para nós. Quando soube que será fechado, fiquei muito triste, porque aqui é um lugar para pessoas necessitadas e para pessoas que não têm dinheiro para pagar por remédios", disse a refugiada Sara Saeed, no centro médico da UNRWA na Cidade Velha de Jerusalém.

O diretor do centro médico, Hamza Al Jibrini, afirmou que a instalação atende 30.000 refugiados. Entre eles estão pacientes com diabetes e pressão alta, mulheres grávidas e crianças que recebem vacinas, afirmou a chefe de enfermagem Manal AlKhayat.

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"Para onde eles irão?", perguntou.

A proibição cobre diretamente apenas o território israelense -- o que Israel considera que Jerusalém Oriental é. A UNRWA também opera na Cisjordânia ocupada e em Gaza, mas não ficou claro como a lei afetará o trabalho da organização nestes locais.

ISRAEL ALEGA PARCIALIDADE

A UNRWA foi criada há cerca de 75 anos, atendendo a cerca de 750.000 refugiados palestinos da guerra de 1948, na época da criação do Estado de Israel.

Israel afirma que a existência contínua da UNRWA, décadas após a guerra de 1948, consolidou o status de refugiado de gerações de palestinos, que agora chegam a milhões, e congelou o conflito.

Israel acusa regularmente a agência de preconceito anti-Israel e alega que sua equipe inclui membros do Hamas, o grupo militante palestino que lançou o ataque mortal na fronteira com insraelense em 7 de outubro de 2023. Israel pede que as responsabilidades da UNRWA sejam assumidas por outros órgãos da ONU, como sua principal agência de refugiados.

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A ONU rejeita as acusações de parcialidade e afirma que a experiência da UNRWA é insubstituível, especialmente em Gaza.

Uma investigação da ONU concluiu que nove funcionários da URNWA podem ter se envolvido no ataque do Hamas. A agência os demitiu e disse que Israel não forneceu evidências de um envolvimento mais amplo de sua equipe. A URNWA emprega cerca de 30.000 pessoas na região e aproximadamente 13.000 na Faixa de Gaza.

(Reportagens de Mustafa Abu Ganeyeh e Senan Abu Mayzer)

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