Em Bruxelas, Trump acusa Alemanha de ser "prisioneira da Rússia"
Letícia Fonseca, correspondente da RFI em Bruxelas
“A Alemanha é prisioneira da Rússia porque recebe grande parte de sua energia da Rússia”, declarou durante uma reunião bilateral com o secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, poucas horas antes do encontro dos 29 líderes da Aliança do Atlântico Norte.
Trump, que após a cúpula da Otan se reunirá com o presidente russo, Vladimir Putin, em Helsinque, fez referência ao compromisso do governo alemão no gasoduto Nord Stream II.
"Isto não é normal", disse. "Eles pagam bilhões de dólares à Rússia e temos que defendê-los contra a Rússia", afirmou o presidente americano, que reiterou as críticas à contribuição financeira de Berlim na Otan, que considera insuficiente.
As declarações foram feitas antes do início da cúpula da Otan, na qual o gasto militar nacional dos aliados será o principal tema, com Trump exigindo que os sócios cumpram a meta de 2% do PIB estabelecida em 2014. Na terça-feira (10), o presidente americano deixou claro que quer mais apoio financeiro dos países-membros da aliança.
“Buraco do inferno”
Esta é a segunda vez que o presidente americano Donald Trump desembarca em Bruxelas, cidade que chamou de “buraco do inferno”, durante sua campanha eleitoral, devido ao excesso de imigrantes.
Na primeira visita, em maio do ano passado, Trump veio inaugurar a nova sede da Otan. Em sua breve passagem, obscurecida pela cobertura da investigação sobre as ligações entre seus assessores e agentes russos, Trump empurrou o premiê de Montenegro e criticou os países da Otan em um tom bastante duro.
Desta vez, o presidente dos Estados Unidos deve voltar a pressionar os aliados a gastar mais com defesa e talvez anunciar a retirada de parte dos 35 mil soldados americanos estacionadas na Alemanha. Mas a verdade é que ninguém realmente sabe como Trump vai agir durante os dois dias que estiver em Bruxelas.
Todos receiam como será a reação deste magnata impulsivo. Os líderes europeus estão preparados para um eventual anúncio de Trump para diminuir a contribuição americana. Porém, a grande preocupação é que ele siga adiante com outras surpresas piores.
Pior cenário possível
Donald Trump poderia, por exemplo, anular a participação dos Estados Unidos em um ou mais exercícios militares da Otan ou atrasar o envio de tropas e equipamentos para a Europa.
Em um tweet recente, Trump escreveu que “os Estados Unidos gastam muito mais do que qualquer outro país da aliança militar. Além disso, a Otan beneficia muito mais a Europa do que os americanos. E isso não é justo com o contribuinte americano”.
Se Trump quiser punir os países da Otan por não estarem cumprindo a promessa de contribuir com os 2% do Produto Interno Bruto (PIB) para a defesa comum da aliança, e isso conduzir à falta de união na Otan, todos os países sairão perdendo.
Com certeza Putin será o líder que mais deve ganhar com esta situação. A reunião na sede da Otan acontece dias antes de Trump se encontrar com Putin em Helsinque, na Finlândia. Se Putin perceber qualquer racha na aliança militar quando se estiver com o presidente americano não há dúvida de que ele irá se aproveitar da situação.
Risco de desintegração da Otan
A Otan vai sobreviver. Para os especialistas, os próximos dias podem trazer muita tensão, mas a aliança militar é importante o suficiente para não se desintegrar. Mesmo se Donald Trump decidir reduzir ao máximo a participação e contribuição americanas.
Colocar em marcha todas estas mudanças estruturais não é nada simples, implicaria também o Congresso dos Estados Unidos, que teria que ratificar qualquer alteração.
Desde que a Otan foi criada, em 1949, os Estados Unidos têm sido os maiores contribuintes em dinheiro, soldados e equipamentos. Em uma declaração conjunta, às vésperas da reunião, a aliança militar e União Europeia se comprometeram em continuar a reforçar a aliança militar transatlântica. Enquanto Donald Trump tuitava que “os países da Otan devem pagar mais, e os EUA, menos”.
Otan continua sua expansão
O próximo país a se tornar integrante da aliança deverá ser a República da Macedônia do Norte, que agora com novo nome aguarda um convite para entrar no seleto clube transatlântico.
No ano passado, foi a vez da adesão de Montenegro. Desde 2008, a Otan vem prometendo abrir as portas para a Geórgia. O governo em Tbilissi fez tanto progresso quanto os dois países dos Balcãs – Montenegro e República da Macedônia do Norte. Além disso, a Geórgia está contribuindo mais para algumas missões da organização do que muitos países que já fazem parte dela.
Apesar de ninguém falar abertamente, o fator Rússia paira sobre a decisão de expandir a Otan. Moscou se opõe a qualquer abertura da aliança militar para as ex-repúblicas soviéticas para manter sua influência.
A Geórgia tem duas regiões ocupadas pela Rússia – Abecássia e Ossétia do Sul – que foram reconhecidas como Estados independentes pelo Kremlin.
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