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Trem em Myanmar tem vagão só para rohingyas, minoria muçulmana perseguida no país

24/09/2018 08h09

Apesar do êxodo em massa da minoria muçulmana, 300 mil membros da comunidade rohingyas ainda vivem na Birmânia. Entre os vilarejos budistas de Sittwe e Zaw Pu Gyar, um trem circula com um vagão reservado só para eles, como mostra uma reportagem publicada pela revista “M”, do jornal Le Monde.

O trem atravessa todos os dias os campos e os vilarejos rohingyas antes de chegar, em 45 minutos, à cidade de Zaw Pu Gyar. Ele poderia representar uma ponta de esperança em meio ao massacre cometido contra a minoria, que nos últimos seis anos já deixou pelo menos 6.700 mortos e obrigou 700.00 pessoas a deixarem Myanmar em direção ao Bangladesh. Mas, no fim, ele é o espelho do apartheid que separa os rohingyas dos budistas que vivem na região. Os passageiros são escoltados pela polícia.

Um dos soldados explicou ao repórter do jornal francês que o objetivo é “protegê-los”. Eles só podem entrar em outros vagões ocupados por budistas se o compartimento reservado à minoria estiver completo. Os rohingyas também não têm direito de se sentar e devem ceder a poltrona aos budistas.

A ONU, que qualificou os ataques contra os rohingyas de “genocídio”, não consegue adotar uma resolução contra a segregação por conta dos vetos da China, membro permanente do Conselho de Segurança. Aung San Suu Kyi, ícone da democratização em Myanmar, já declarou apoiar as Forças Armadas, recusando o compromisso assumido a favor das minorias do país quando chegou ao poder.

A Corte Penal Internacional acaba, por sua vez, de se considerar competente para julgar a deportação dos rohingyas para o Bangladesh crimes contra a humanidade. O destino dos 300 mil membros da minoria que continuam no país, entretanto, é uma incógnita.

Confinados em campos

Desde 2012, os rohingyas são confinados em campos e vilarejos unicamente muçulmanos. Neste ano, os boatos envolvendo o estupro de uma mulher do estado do Arracão, maioria no país, dá início a uma série de tumultos contra os muçulmanos, levando ao deslocamento de 140 mil pessoas. Esse episódio marca a segregação ativa no Estado.

Os muçulmanos foram expulsos de Sittwe e suas lojas foram fechadas ou destruídas. Antes eles representavam 40% da população, mas hoje não há sinais da presença deles. Apenas uma mesquita no centro, fechada desde 2012. As ONGS presentes no país tem a ação limitada, descreve a reportagem. Uma voluntária, que preferiu não se identificar. “Temos que pedir autorizações para nos deslocarmos todos os meses. Impossível saber se elas serão aceitas ou não”.