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"Bolsonaro ouviu nossas necessidades", dizem representantes do agronegócio

23/10/2018 14h44

Jair Bolsonaro, candidato do PSL à presidência do Brasil, avança para o segundo turno como favorito, contando com apoios importantes, como o dos empresários do ...

Durante toda a corrida eleitoral brasileira, tem se falado muito do “lobby BBB”, sigla usada para os grupos evangélicos (Bíblia), os defensores de uma linha dura em termos de segurança (Bala) e os agricultores e pecuaristas (Boi), que demonstram um apoio mais ou menos velado a alguns candidatos. No caso dos empresários do agronegócio, já bastante representado no Congresso, a ambiguidade desapareceu antes mesmo do primeiro turno, quando Jair Bolsonaro recebeu, no dia 2 de outubro, a visita da deputada Tereza Cristina (DEM-MS). A representante, que dirige a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), grupo que reúne 261 deputados federais e senadores de vários partidos, trazia uma carta na qual exprimia apoio oficial o candidato do PSL.

De acordo com o documento assinado pela FPA, a polarização sentida no primeiro turno e a possibilidade mais do que plausível de um duelo entre Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo foi o estopim da decisão no início do mês. Na carta, os signatários afirmam unir suas forças para “evitar que candidatos ligados a esquemas de corrupção e ao aprofundamento da crise econômica brasileira retornem ao comando do nosso país”.

O documento era um recado direto ao Partido dos Trabalhadores (PT), apresentado pelos empresários do setor como o principal responsável pelas dificuldades do agronegócio brasileiro. “O governo do PT saqueou o país e nós queremos acabar com isso”, afirma Normando Corra, presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso. A entidade, conhecida como Sistema Famato, representa alguns dos mais importantes players do setor, em um estado que reúne o principal rebanho bovino do país e um dos maiores do mundo.

Seu representante vê na eleição do candidato da extrema direita a solução para uma melhoria do setor, em oposção à ação do partido de Haddad durante os governos Lula e Dilma. “Desde o começo, Bolsonaro tem ouvido nossas necessidades e nos atendido. O que não acontece com o PT, que é um partido socialista que quer igualar pela miséria, e não pela distribuição de riquezas”, defende.

Setor quer um Estado mais enxuto

Mesmo tom do lado de Francisco Manzi, diretor técnico da Acrimat, a Associação dos Criadores de Mato Grosso, que representa os pecuaristas. Segundo ele, “o PT teve a sua chance de poder efetuar as medidas necessárias para que estivéssemos em uma situação melhor. Hoje temos quase 14 milhões de desempregados. Sabemos que há uma conjuntura internacional, mas é por causa das políticas de governo”, critica. “Então nos atrai um Estado mais enxuto que privatize o máximo, com exceção das funções que são exclusivamente de Estado, como juízes, polícia ou fiscais, que devem ser órgãos públicos. Nos agrada mais o posicionamento de quem quer ter um Estado menor”, afirma Manzi, que reconhece essas característica em Jair Bolsonaro.

Além da rejeição ao PT e da sede de privatização, outra questão motiva os agricultores: a luta contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra. “O MST já invadiu áreas produtivas e de pesquisas e destruiu tudo. Isso não é um movimento social, e sim um movimento que prima pela ilegalidade. A função deles é pura baderna e tomada de poder”, se irrita Normando Corra. Questionado sobre as declarações de Bolsonaro, que teria comparado as invasões do MST a ações terroristas, o representante do Sistema Famato concorda. “É um movimento de bandidos e isso é ato de terrorista, coisa que o PT defende”.

Agronegócio ajudará a escolher ministro

Com esse apoio explícito, os agricultores terão em troca, em caso de vitória do candidato do PSL, uma influência de peso nas negociações e até na escolha do próximo ministro da Agricultura. No dia 16 de agosto, a deputada federal Tereza Cristina confirmou que Bolsonaro solicitou à bancada ruralista a indicação de “dois ou três nomes” para dirigir a pasta.

Entre os candidatos mais cogitados estão Luiz Antonio Nabhan Garcia, presidente da União Democrática Ruralista (UDR), que chamou a atenção recentemente por declarações controversas. Além de defender a contestada fusão dos ministérios da Agricultura com Desenvolvimento Agrário e Meio Ambiente, ele já mencionou a possibilidade de desmatamento legal da Amazônia e questionou a pertinência do Acordo do Clima de Paris, que seria, segundo ele,  um risco para a soberania nacional.

“Ele simboliza um ruralismo ultrapassado”, alerta Maureen dos Santos, representante da Fundação Heinrich Böll Brasil, que coordenou, junto com a Fundação Rosa Luxemburgo, o Atlas do Agronegócio. Para ela, essa visão da agricultura vai na contramão do que se pratica no resto do mundo. “O documento apresentado pelo FPA a Bolsonaro propõe mudanças de demarcação de terras indígenas e de assentamentos de reforma agrária. Existe um negacionismo em várias frentes, como os direitos socioambientais ou a própria existência das mudanças climáticas. São questões que a gente pensava que no Brasil já era um debate terminado”, explica.

Além disso, a especialista chama a atenção para o impacto dessas medidas no próprio setor. “Tem uma dimensão econômica que pode ser muito desfavorável para o Brasil, em especial em relação a países da Europa, que são mais avançados com algumas legislações. Podemos, por exemplo, criar problemas para barreiras comerciais e retaliações se a gente colocar a Amazônia em risco.” Para ela, questionar os avanços em termos de defesa ambiental é um perigo para todos. “Ele estão pensando muito no imediatismo, com uma conquista de terra e o crescimento do setor, mas pensando pouco no futuro a médio prazo”.