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Cordel se adapta à tecnologia e tem até desafio repentista por WhatsApp, diz pesquisadora francesa

24/10/2018 23h00

O cordel não ficou parado na década de 60 e "sempre acompanhou as evoluções".

Perguntada sobre o papel do cordel hoje, a escritora ressalta que essa cultura não ficou estagnada e está muito presente na internet, por exemplo. Debs lembra que em termos de métodos de impressão, de tipografia e de processo de produção, essa cultura vem acompanhando as mudanças da sociedade. Rencentemente, o cinema de animação também "vem se apropriando muito do cordel". Ela lembra que em 2005, o festival de animação AnimaMundi premiou um filme inspirado em um cordel de J.Borges chamado "A moça que dançou depois da morte".

Literatura e cinema

A escritora, que se identifica como "nordestina da França", já que é da cidade Estrasburgo, no nordeste do país, conta que conheceu pesquisadores brasileiros que estudam cordel, mas não especificamente a relação dessa literatura com cinema, que é o foco dela. Seu livro "Cinema e Cordel: Jogos de Espelhos" já lançado em português acaba de sair em francês pela editora L'Harmattan.

Ela conta que seu interesse pelo tema surgiu nas suas pesquisas de doutorado quando viajou bastante pelo nordeste do Brasil e descobriu a literatura de cordel. Nesse momento, ela entrevistou muitas pessoas ligadas a essa cultura. A ligação com o cinema apareceu primeiro através dos filmes de Glauber Rocha. "Comecei a me dar conta que muitas das mis-en-scène de Glauber Rocha estavam bebendo nas fontes da literatura de cordel, do universo do cordel".

Além da influência do cordel no cinema, Sylvie conta que percebeu que o contrário também acontecia. "Eu descobri que na década de 30, 40 e 50, muitas capas de cordéis utilizavam imagens de atores e atrizes americanos". A pesquisadora conta que eles achavam essas imagens bonitas, compravam em jornais e utilizam em suas capas. Ela explica que na época a xilogravura não era tão comum, por isso essas imagens eram muito usadas.

Apoio a artistas em exílio

Sylvie também é diretora do projeto Casas Brasileiras de refúgio, que faz parte da rede International Cities of Refugee Network, sediado na Noruega, e dá apoio e proteção a artistas exilados. Ela conta que a iniciativa foi criada para receber escritores ameaçados de morte nos seus países de origem, mas hoje recebe também outros tipos de artistas. "Há 70 casas no mundo e eu resolvi levar isso pro Brasil", relata.

A escritora conta que optou por fazer parcerias com universidades. A primeira a aderir foi a Universidade Federal de Minas Gerais, que está recebendo por dois anos um escritor da República Democrática do Congo. "Agora ele já fala fluentemente português e está dando várias aulas sobre cultura africana", relata. Outras quatro universidades estão em negociação para entrar no projeto.