Para Turquia, morte de Khashoggi não poderia ter ocorrido sem ordem do alto escalão saudita
A justiça turca concluiu que Jamal Khashoggi, jornalista desaparecido em 2 de outubro, em Istambul, foi estrangulado e depois esquartejado assim que entrou no Consulado da Arábia Saudita. A informação foi divulgada momentos após o procurador saudita voltar ao seu país, nesta quarta-feira (31), sem contribuir com a polícia durante viagem à Turquia.
Fernanda Castelhani, correspondente da RFI em Istambul
Esta é a primeira confirmação oficial da Turquia sobre como foi o assassinato de Jamal Khashoggi, desaparecido desde o dia dois de outubro. A Turquia vinha afirmando desde início que o sumiço do jornalista que o crime ocorreu dentro do Consulado da Arábia Saudita, o que o regime de Riade negava sem apresentar fatos que comprovassem o contrário.
A gota d’água na tentativa turca de extrair informações de forma colaborativa foi a visita do procurador saudita. Ele esteve aqui em Istambul e foi embora ontem (31) sem fornecer nenhuma informação ou pista para o esclarecimento de dois pontos-chave: identificar os mandantes e o que foi feito com o corpo, até agora, não encontrado.
Ou seja, os investigadores perderam totalmente a já frágil confiança no regime saudita e, diante da visita frustrante, resolveram falar. Tanto que o porta-voz do partido governista turco (AKP) acrescentou, em coletiva à imprensa, que um crime como este não poderia ter ocorrido sem ordens do alto-escalão do poder.
Primeiramente, a Arábia Saudita, negou que o jornalista tivesse sido assassinado. Depois, reconheceu que a morte ocorreu, mas por uma operação não autorizada pelo regime. As autoridades de Riad têm mais alguma versão para o crime?
Não. O procurador saudita prometeu respostas imediatas, mas ignorou os diversos pedidos para a extradição e julgamento aqui na Turquia dos sauditas suspeitos apontados pela monarquia.
Assim como, em três dias de visita, ele não deu detalhes sobre o planejamento do crime e a identidade do cúmplice em solo turco de todo esse plano. Até agora, o regime de Riad já admitiu que Jamal Khashoggi foi vítima de um crime premeditado e também prendeu dezoito pessoas.
Corpo pode ter sido destruído com ácido
Em outra ocasião, chegou a afirmar que o jornalista morreu numa briga durante uma operação de extradição, que o seu corpo foi mantido intacto, enrolado num tapete, retirado do prédio em um carro consular e entregue a um coautor local para ser descartado. Por outro lado, oficiais turcos, que pediram para não serem identificados, já disseram até que há suspeita de que o corpo foi destruído com ácido no jardim do consulado ou próximo à residência oficial do cônsul saudita.
As autoridades sauditas continuam reforçando que tudo foi feito sem conhecimento da realeza. Antes de partir, o procurador convidou os investigadores de Istambul para visitar Riad a fim de compartilhar evidências reunidas até o momento e interrogar os suspeitos sob supervisão saudita.
Objetivo de Riade seria poupar príncipe herdeiro
Se não era para cooperar, por que o procurador saudita fez essa visita à Turquia? Ao que tudo indica, para salvar a coroa do príncipe-herdeiro. De acordo com um oficial turco que pediu anonimato, o saudita estava mais interessado em saber que dados as autoridades turcas têm sobre os autores do crime e coletar o máximo possível de informações para levar de volta para casa.
Jamal Khashoggi desapareceu há quase um mês quando foi ao consulado saudita de Istambul obter documentação para o casamento com a noiva, que é turca. Ele já tinha ido ao local anteriormente e foi orientado a retornar na data em que sumiu. Colunista do Washington Post, o jornalista morava no Estados Unidos desde o ano passado.
Já foi conselheiro da realeza saudita, mas, com a ascensão do príncipe Mohammed bin Salman ao poder, tornou-se crítico ferrenho da monarquia. Ou seja, sabia demais. A postura agora da Turquia em confirmar de que forma ele foi assassinado mostra que o país tem mais evidências na manga, mas que só vai divulgar ou vazar aos poucos justamente para deixar, cada vez mais, o regime saudita sem saída.
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