Topo

Presença feminina deve ser determinante em eleições de meio de mandato nos Estados Unidos

31/10/2018 14h56

Por inúmeros motivos, as mulheres serão fundamentais nas eleições legislativas dos Estados Unidos.

"Há três anos eu era apenas uma eleitora. Agora também organizo atos a favor do voto, sou uma pessoa que participa de campanhas de porta em porta para as eleições de 6 de novembro", afirmou à AFP Barbra Bearden, uma democrata de 37 anos.

Estas eleições, as primeiras desde que o empresário bilionário chegou à Casa Branca, são "realmente cruciais", disse Bearden. "Eu não fazia nada disso antes de Trump", admite a consultora especializada em desenvolvimento, que decidiu organizar uma campanha telefônica de sua casa em Washington para estimular as mulheres em todo país a comparecerem às urnas.

A iniciativa "Call Your Sister" (Ligue para sua irmã) foi criada pelas organizadoras da Marcha pelas Mulheres, que levou mais de um milhão de pessoas às ruas depois de Trump assumir a presidência, em janeiro de 2017.

Nas eleições de meio de mandato, os americanos deverão eleger 435 membros da Câmara de Representantes e quase um terço dos 100 integrantes do Senado. A votação coloca em jogo quase todo o equilíbrio de poder em Washington e os democratas almejam recuperar a maioria para poder frear, no Congresso, a agenda política do presidente republicano.

Porém, uma mudança desta magnitude seria impossível sem as mulheres. "As eleitoras são mais disponíveis para flutuar entre os dois partidos", explica Steven Schier, cientista político do Carleton College de Minnesota.

Recorde de candidatas

Cientistas, veteranas de guerra, advogadas, empresárias e donas de casa. Nesta eleição, o eleitorado americano terá uma grande variedade de perfis para escolher. E o número de mulheres na disputa dessa vez é recorde: 198 democratas e 59 republicanas.

Atualmente, elas ocupam 20% das cadeiras no Congresso. As minorias também estão representadas nas cédulas de votação. Várias candidatas são figuras carismáticas que ganharam repercussão nacional, como a democrata Alexandria Ocasio-Cortez que, aos 29 anos, venceu um político veterano nas primárias com propostas mais à esquerda do que a linha tradicional de seu partido. Até momento, o entusiasmo do eleitorado feminino beneficia os democratas.

Votos disputados

Alisha Johnson e Nicole Archambeau não se conhecem, mas as duas moram no distrito de St. Paul, em Minnesota, um reduto chave dos republicanos, onde o candidato democrata trava uma disputa acirrada na eleição.

As duas participam de eventos escolares no bairro de Mendota Heights e têm um perfil sociológico muito cobiçado: representam as mães dos subúrbios. Este segmento é formado em sua maioria por mulheres brancas, com escolaridade e de classe média. Apesar do apoio aos republicanos nos últimos anos, há indícios de que esta faixa de eleitoras esteja se distanciando do partido e de Donald Trump.

Esse, no entanto, não é o caso de Johnson, executiva de uma cooperativa de crédito que, aos 52 anos, se identifica como republicana e diz que seguirá votando no partido. Trump falou em "mudança", explicou ela. "Eu vi um impacto positivo na economia e na educação", completou, antes de afirmar que nem sempre concorda com o que diz o presidente.

De acordo com uma compilação de pesquisas do portal RealClearPolitics, os candidatos democratas ao Congresso têm sete pontos de vantagem sobre os rivais republicanos. A indignação provocada pela confirmação de Brett Kavanaugh como juiz da Suprema Corte, acusado de agressão sexual em um caso que incluiu uma comovente audiência no Congresso da mulher que o denunciou, pode ter um papel importante nestas eleições.

Archambeau, professora de 48 anos e mãe de quatro filhos, está determinada a votar nos democratas. "Com Trump não se trata apenas de diferenças em nossas posturas políticas, mas também em nível moral", explicou. "Ele não é um bom exemplo", conclui.