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Após reunião com forças políticas na Bolívia, Igreja fala em "primeiro passo" para superar a crise

19/11/2019 08h58

O líder civil de direita Luis Fernando Camacho, que provocou a queda de Evo Morales, defendeu nesta segunda-feira (18) a realização de eleições na Bolívia no dia 19 de janeiro. Camacho deu um prazo "até a quinta-feira" para que o governo interino convoque a votação. A Conferência Episcopal da Bolívia tenta mediar um diálogo entre deputados do Movimento ao Socialismo (MAS), o partido de Morales, representantes do governo interino e organizações sociais para reduzir a atmosfera de violência que se instalou nas ruas e definir a data de uma nova votação.

A reunião de mediação da Igreja aconteceu na missão da União Europeia (UE) em La Paz. Segundo o Monsenhor Eugenio Scarpellini, membro da Conferência Episcopal, houve reuniões em separado com os representantes presentes, o que ele descreve como um "primeiro passo". "Acredito que há vontade de avançar, os acordos estão se formando", declarou Scarpellini à rede de televisão CNN.

Na avaliação do bispo auxiliar de La Paz Aurelio Pesoa Ribera, o diálogo é a maneira apropriada para superar as divergências entre os bolivianos. "Realizar novas eleições, transparentes e confiáveis, é o melhor caminho para superar as diferenças de forma democrática e pacífica", enfatizou.

Com o apoio da União Europeia e do enviado especial da Nações Unidas, Jean Arnault, os bispos bolivianos tentam romper o ciclo de violência que se instalou entre os simpatizantes de Morales e defensores de uma nova votação. Ao defender o agendamento das eleições para 19 de janeiro, o opositor Camacho se respalda nas articulações da Igreja Católica.

Para a convocação, o governo interino deverá selar um acordo com o partido de Morales já que, segundo a Constituição, o Congresso é o encarregado de eleger seis dos sete titulares do Tribunal Supremo Eleitoral (TSE). Os membros anteriores dessa instituição estão em prisão preventiva por irregularidades nas eleições presidenciais de outubro, que resultaram na reeleição de Morales após uma polêmica contagem dos votos. O ex-presidente chegou a anular os resultados, horas antes de renunciar.

A imprensa boliviana desconhece as próximas etapas do processo de mediação. Uma fonte ouvida pelo jornal La Razón diz que um dos temas sobre a mesa é uma proposta de lei de anistia.

Bloqueio prejudica abastecimento

Morales tentou a reeleição em 20 de outubro, mas a oposição denunciou fraudes - o que em parte foi avalizado por denúncias de irregularidades da Organização dos Estados Americanos (OEA) -, dando origem a uma crise que levou Morales a renunciar, após perder o apoio dos militares e da Polícia. Em um mês de protestos devido à crise eleitoral, 23 pessoas morreram e centenas ficaram feridas. A autoproclamação de um governo interino, na semana passada, encabeçado pela senadora da oposição Jeanine Áñez ampliou a polarização na sociedade.

Seguidores de Morales protestam diariamente nas ruas das principais cidades do país para exigir a renúncia da presidente interina. Os maiores distúrbios são registrados em El Alto, La Paz, Cochabamba e Sacaba, onde nove pessoas morreram na sexta-feira. Exilado no México, o ex-presidente se considera vítima de um golpe de Estado, enquanto sua sucessora promete pacificar o país e convocar eleições.

Simpatizantes de Morales bloqueiam estradas de acesso a La Paz. Os bolivianos já sentem problemas de abastecimento. Os preços dos alimentos aumentaram e começam a faltar produtos nas feiras e supermercados. Os pequenos agricultores, sobretudo plantadores de coca, dizem que o governo interino não os representa e causa a morte da democracia e dos mais pobres.

Ainda na segunda-feira, a ministra da Comunicação, Roxana Lizárraga, acusou Morales de tentar dividir os bolivianos. "O que ele está causando é apreensão. Ele não é um pacificador, ele está nos chantageando", acusou.

No México, Morales usou o Twitter para fazer suas críticas. "Em vez de pacificação [as novas autoridades] ordenam difamação e repressão contra irmãos do campo que denunciam o golpe de Estado".