Artistas protestam no Irã contra mentiras do governo após catástrofe aérea
Vários artistas decidiram não participar do Festival de Farj, evento que celebra em Teerã o aniversário da revolução iraniana. O boicote simbólico foi apresentado como uma homenagem às vítimas da queda do avião da Ukraine Airlines. Atores, cineatas e fotógrafos querem denunciar a posição do governo, acusado de ter mentido sobre sua responsabilidade na catástrofe aérea que matou 176 pessoas em 8 de janeiro.
Com informações de Sara Saidi
"Em sinal de empatia com o povo em luto, esse ano eu não participarei de nenhum evento de Fajr, seja como artista, como membro do júri ou até como expectadora", declarou a atriz Sara Bahrami em sua conta no Instagram. O ator Mehdi Koushki também se uniu ao movimento e anulou a apresentação de uma peça prevista para ser encenada no festival, assim como o fotógrafo Kiarang Alaei, que faria parte do júri e cancelou sua participação.
Taraneh Alidoosti, que ficou conhecida internacionalmente por sua participação como atriz principal do filme O Vendedor, de Asghar Farhadi, já boicotava há anos o evento, considerando que a manifestação serve de ferramenta para o melhorar a imagem governo. "Estou contente de ver que meus colegas entenderam que esse festival tem uma dimensão propagandista e nada cinematográfica", declarou. "Nós não somos cidadãos e nunca fomos. Somos prisioneiros. Somos milhares de prisioneiros", escreveu nas redes sociais.
Cineasta e produtor foram presos
Desde que o governo iraniano confessou, em 11 de janeiro, ser o responsável pela queda do Boeing 737 da companhia aérea ucraniana, a classe artística do país vem se mobilizando. Na semana passada, a cineasta Rakhshan Bani-Etemad chegou a ser presa por algumas horas após ter convocado a população para uma manifestação pela memória das vítimas da catástrofe. Neste fim de semana, foi a vez do produtor de teatro Massoud Hokmabadi ser detido por ter incitado os colegas a boicotarem o festival de Teerã.
Para o diretor Mojtaba Mirtahmasb, essa mobilização é a forma encontrada pelos artistas para denunciar a distância que existe entre a população e a classe política. "Os políticos querem agir como se nada tivesse acontecido e estamos mostrando que não concordamos", declarou. Para ele, a postura das autoridades, que durante três dias "mentiram sem nenhuma desculpa", provocou uma "tristeza nacional".
No entanto, nem toda a classe artística faz parte do boicote ao festival. O ator Shahab Hosseini, prêmio de interpretação masculina no festival de Cannes em 2016, quando contracenava com Taraneh Alidoosti no filme O Vendedor, não aderiu ao movimento e disse temer que a iniciativa dos colegas "crie um fosse irreversível entre os atores e o público".
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