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Obras de street art de Banksy são confinadas em mostra parisiense

14/08/2020 11h42

"O Mundo de Banksy" é o tema da exposição em cartaz no espaço Lafayette-Druot, em Paris, até dezembro. Reproduções gigantes das obras do enigmático artista se espalham por mais de mil metros quadrados no interior de uma galeria privada no centro da capital francesa.

A verdadeira identidade de Banksy é um mistério. O estilo de spray sobre moldes vazados, o estêncil, é sua marca registrada. As imagens misturam ousadia, transgressão, crítica à sociedade de consumo, defesa de refugiados, solidariedade com vítimas de perseguições e catástrofes. Banksy brinca e critica ao mesmo tempo.

As obras surgem de repente, em lugares estratégicos. Como uma menina chorando, na porta do Bataclan, em Paris, após os atentados de 15 de novembro de 2015, ou mais recentemente, um rato espirrando nas janelas de vagões de metrô em Londres, uma referência à pandemia.

A mostra em Paris se apropria de dezenas de imagens icônicas em meio a uma cenografia que tenta reencenar os locais onde o artista deixou rastros.

"O local escolhido, no caso da street art, é muito importante, principalmente no caso de Banksy", diz Aziz Vardar, diretor do espaço parisiense. "Se você prestar atenção nos trabalhos que ele fez nos Estados Unidos, trata-se de uma denúncia sobre o consumo desenfreado. Em Belém, na Palestina, ele critica o muro. Tem a garota na porta do Bataclan. Se não fosse nesse lugar exato, o efeito seria dez vezes menor", acrescenta Vardar.

"Ampliamos as imagens, que foram inseridas num contexto realístico. A relação com a obra de Banksy fica dessa maneira mais próxima. Para se viver e sentir o que é a arte urbana é mais interessante ver as imagens aumentadas", explica Vardar. "Na arte urbana, a técnica é simples. O importante não é quem segura o molde na parede ou aperta o spray, o resultado é que conta", acrescenta.

A exposição dá uma ideia da versatilidade e produtividade de Banksy, um dos pioneiros da street art, mas levanta críticas por causa do preço da entrada --14 euros - para se ver cópias. Há quem ataque dizendo que isso vai justamente contra os propósitos de acessibilidade da arte urbana.

O site independente de jornalismo Mediapart foi mais longe e disse se tratar de "uma pseudo exposição de supostas obras de Banksy que acaba corrompendo o espírito público, prostituindo a arte sob o pretexto de exaltá-la". O artigo também ressaltou o fato de a mostra acontecer em um local privado e fechado, contrariando o próprio conceito de arte urbana.

Mas quem é Banksy?

Os primeiros grafites de Banksy surgiram no início dos anos 1990, em Bristol, no oeste da Inglaterra. Desde então, suas obras podem aparecer em qualquer canto do mundo, em lugares públicos. Mas ninguém conhece ao certo seu rosto ou identidade. Existe ainda a teoria de que Banksy é, na verdade, um coletivo de artistas.

Banksy foi um dos principais percursores da street art, que acabou se tornando objeto de desejo de colecionadores e atração de grandes leilões. É difícil de saber como o próprio Banksy, ou quem quer que esteja atrás dessa marca, pensa sobre isso.

Recentemente o grafite da menina do Bataclan foi devolvido à França, depois de ter sido roubada e levada para a Itália. Um outro grafite foi retirado da entrada da garagem do Centro Pompidou, também em Paris. Em Calais, no norte da França, um spray de Banksy fazendo referência aos clandestinos que sonham em atravessar o canal da Mancha para chegar à Inglaterra foi protegido por uma tela de acrílico.

Há também o episódio do quadro - um spray de "A Menina com um Balão" - que se autodestruiu em 2018, após arrematar US$ 1,4 milhão em um leilão da Sotheby's, em Londres. Uma crítica ao mercado milionário da arte contemporânea? Ou um golpe de autopublicidade?

O evento agrada ao grande público, tanto que o término já foi prorrogado duas vezes. "A street art passa mensagens. Ou não. Ela traz questionamentos, reflexões. Surpreende e aparece em locais insólitos. Além disso, é acessível a todos, pois é de graça. A arte urbana é algo muito popular", diz a professora Célia, em visita ao espaço.

"Gosto do Banksy porque ele é completamente invisível, não quer aparecer, faz coisas que exigem coragem, como no muro que separa Israel e a Palestina. Ele é provocador, mas suave ao mesmo tempo. É um artista excepcional. Ou uma artista, pois não sabemos se é uma mulher", acrescenta Célia.

Candidato ao Oscar

Banksy foi candidato ao Oscar de melhor documentário em 2011, com o divertido e irreverente "Saída pela loja". O longa  conta as peripécias de um excêntrico francês, baseado em Los Angeles, dono de um brechó de roupas, que é obcecado em filmar tudo o que se passa ao seu redor, até mergulhar na street art. Há polêmicas de que o personagem principal, Thierry Guetta, teria sido "fake", ou seja, pago para interpretar a si mesmo.

A mostra O Mundo de Banksy fica em cartaz no espaço Lafayette-Druot, em Paris, até 31 de dezembro.