França: plano de € 100 bilhões para reanimar economia leva em conta a ecologia
Com a crise instaurada pela pandemia do coronavírus e seu confinamento, o Executivo francês apresentou nesta quinta-feira (3), um plano de estímulo à economia € 100 bilhões, denominado de "France Relance" e que pretende, de acordo com o presidente Emmanuel Macron, "preparar a França para 2030". O governo quer financiar o futuro enquanto lida com a crise atual.
"Depois do momento de emergência, é o momento de reviver." A comitiva do primeiro-ministro Jean Castex garante: o plano permitirá que a economia francesa se recupere. E irá compensar até 2022 as perdas causadas pelo coronavírus.
É a "calibragem" certa, repete um assessor muito próximo do premiê. Estes € 100 bilhões equivalem aos quatro pontos percentuais do PIB perdidos durante a crise, e o orçamento do país poderá recuperá-los, assegurou a equipe do governo.
Matignon, a sede do governo fracês, previne que a centelha não deve virar "fogo de palha". A ideia do governo é de investir em setores que são realmente promissores para os próximos dez anos. Cerca de 200 mil jovens serão treinados, por exemplo, em futuras profissões ligadas a setores da saúde da indústria do hidrogênio. No curto prazo, o primeiro-ministro Jean Castex também indicou que o objetivo do plano de recuperação econômica é de criar 160 mil empregos em 2021.
E se isso não for suficiente? E se esse plano vier tarde demais, como a oposição de esquerda repete? "Estamos prontos para nos ajustar, para nos adaptar", responde a cúpula do Estado francês. O governo se vê obrigado a se mover passo a passo diante de uma crise que o ocupará até as próximas eleições presidenciais.
Outras críticas ao plano de relance foram ouvidas, em particular sobre a falta de um plano de remuneração em termos de emprego, como destaca o sindicalista Philippe Martinez, secretário geral da Confederação Geral do Trabalho (CGT). Quando questionado sobre as críticas que acusam o governo de estar presenteando as empresas, Castex argumentou que "o plano é um presente para a França" para "retomar a economia e lutar contra o desemprego".
As pequenas e médias empresas, fragilizadas pela desaceleração da atividade econômica, esperam muito deste plano de investimento, até que a engrenagem da economia dê de novo a partida. "Na verdade, estamos em uma fase de atividade fraca, em que a necessidade de investimentos será colossal", revela Aabla Jounaïdi, de uma PME em Tarbes, no sudoeste do país, região de grande atividade aeronáutica.
"France Relance": € 100 bilhões divididos em três partes quase iguais
Em um primeiro momento, € 30 bilhões serão direcionados para a "descarbonização" dos setores que mais emitem CO2: transportes, edifícios, energia, indústria e agricultura.
Em seguida, outros € 35 bilhões serão investidos em competitividade e inovação, o que exigirá uma redução de € 20 bilhões em dois anos nos impostos sobre a produção para as indústrias, principalmente as empresas médias. Os impostos sobre a produção são cobrados sobre terrenos comerciais e industriais, sobre o valor agregado ou mesmo sobre o faturamento, e que pesam sobre as contas das empresas.
Cerca de € 3 bilhões deste componente serão dedicados às PMEs para fortalecer seus patrimônios; e € 1 bilhão será investido em projetos industriais e tecnológicos, na realocação de setores-chave, como saúde, eletrônica, agroalimentar e 5G, por exemplo.
E por fim, € 35 bilhões serão direcionados ao emprego, em particular ao dos jovens, para a formação em setores do futuro, como a transição ecológica e digital ou mesmo para a saúde e carreiras sociais, e também para a luta contra a exclusão.
Ao todo, o plano de € 100 bilhões será financiado pelo déficit e pelos orçamentos públicos e quase metade será paga pela União Europeia. A isto somam-se os investimentos em hospitais, com € 6 bilhões previstos. Mas haverá também a reavaliação das bolsas de volta às aulas, além dos auxílios sociais.
"É um plano em grande escala muito importante, porque há mudanças em relação ao plano de estímulo tradicional. Essa inflexão é excelente. A economia francesa não está em muito boa saúde. É uma economia mediana", avalia Dominique Lacoue-Labarthe, economista e professor emérito da Universidade de Bordeaux.
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