Diretora de RH do Charlie Hebdo é ameaçada de morte e polícia a retira às pressas de casa
Marika Bret, diretora de Recursos Humanos do jornal satírico francês Charlie Hebdo, foi obrigada a abandonar sua casa em Paris, sob proteção policial. Ela recebeu ameaças de morte da Al-Qaeda e de jihadistas em pleno julgamento pelo atentado terrorista de 2015, revelou a diretora à imprensa francesa.
Marika, que vive sob proteção policial há cinco anos, isto é, desde o ataque contra a redação do jornal satírico em 7 janeiro de 2015, afirmou à revista Le Point e à radio France Info que as ameaças eram "concretas o suficiente para serem levadas a sério".
"Tive 10 minutos para recolher minhas coisas e sair da minha casa na segunda-feira da semana passada (14). Dez minutos para deixar uma parte da minha vida para trás é um pouco curto, e é muito brutal", desabafou. Ela não poderá voltar mais para o local onde vivia.
Ela contou que foi acolhida por amigos e que quando chegou à casa deles brincou dizendo que era "uma refugiada política". "Aprendi com Cabu e Charb (chargistas mortos no ataque) a manter o humor", indicou Bret.
Julgamento
As ameaças coincidem com o julgamento histórico de 14 suspeitos de serem cúmplices dos autores dos atentados ao Charlie Hebdo e a uma mercearia judaica parisiense. Os ataques deixaram 17 mortos. Doze pessoas, incluindo alguns dos cartunistas mais famosos da França, foram assassinadas pelos irmãos Said e Chérif Kouachi, que invadiram a sede do jornal armados com kalashnikovs.
Marika Bret denunciou o caso para informar o público como "vivem as pessoas que trabalham no jornal". Desde o início do julgamento, em 2 de setembro, e a republicação dos polêmicos cartuns do profeta Maomé, a diretora de RH afirma que ela e o resto da equipe receberam "todos os tipos de horrores, da Al-Qaeda" e de jihadistas que ameaçam "terminar o trabalho iniciado pelos irmãos Kouachi".
No entanto, há também declarações de apoio e Marika agradeceu as inúmeras mensagens que jornalistas e membros da publicação receberam desde os ataques.
Há "uma quantidade louca de ódio em torno do Charlie Hebdo", disse Bret à Le Point, afirmando que a saída forçada de sua casa "traduz o nível de tensão sem precedentes, com o qual temos que lidar".
No início deste mês, a Al-Qaeda voltou a ameaçar o veículo satírico, prometendo a realização de um novo atentado.
Ódio político
"Mas Charlie nunca deixou de ser ameaçado. Vivemos essa anormalidade há cinco anos e confesso que, durante o julgamento, esse clima é ainda mais difícil", reiterou. Os integrantes da equipe vivem sob proteção policial e o jornal funciona em um local secreto. "Condições de vida que não desejo a ninguém", declarou, lembrando que é impossível ter 100% de proteção e não "ceder ao medo".
Marika Bret analisa o ódio político que surgiu na França desde os ataques, oriundo principalmente, segundo ela, do partido França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon. De acordo Charlie Hebdo, o líder da esquerda radical acusa o jornal de fazer, juntamente com uma revista de extrema direita, uma campanha de discriminação racial. Bret vê na acusação um julgamento político e não consegue entender como uma redação, que tem defendido os valores humanistas e a liberdade de expressão, pode ser descrita como islamofóbica.
Apesar do clima de tensão, Marika Bret, continua assistindo pessoalmente todas as audiências do processo. A diretora RH, que foi uma das responsáveis pela retomada do jornal satírico em 1992 e companheira de Charb durante 15 anos, acredita que "nunca mais será a mesma depois deste julgamento".
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