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Resposta de Macron ao extremismo islâmico interno será teste para unidade da França

20/10/2020 07h34

Os jornais franceses desta terça-feira (20) destacam a resposta do governo francês diante do extremismo islâmico no território francês, após a decapitação do professor Samuel Paty, na última sexta-feira (16). Para o Le Monde, a diferença que o presidente Emmanuel Macron enfrenta em relação a seus predecessores é a "impossibilidade de encontrar uma união [dos partidos políticos] para enfrentar esse fenômeno".

Diante da emoção nacional, o presidente deixou claro que "o medo vai mudar de lado" e que os " radicais islâmicos não poderão mais dormir tranquilos nesse país". A reportagem do Le Monde destaca que as operações policiais irão continuar nos próximos dias contra dezenas de indivíduos e organizações que utilizam as redes sociais para divulgar mensagens de ódio e violência.

Para o governo, quem espalha intolerância também é responsável pelo que aconteceu com o professor assassinado. O presidente francês pediu uma atenção particular à segurança das escolas na volta às aulas, em 2 de novembro, quando se encerra o período de duas semanas de férias escolares iniciado no sábado (17).

Na véspera da homenagem nacional a Samuel Paty, o jornal Le Parisien mostra que esta semana será fundamental para o Executivo adotar uma resposta ante o medo que se instalou com o assassinato brutal do professor, decapitado por ensinar liberdade de expressão a seus alunos, de acordo com o texto. O diário francês destaca que novas medidas são esperadas na reunião do Conselho de Ministros, marcada para a quarta-feira (21).

Le Parisien traz uma entrevista com o ministro da Justiça, Eric Dupond-Moretti, que ainda não havia se pronunciado sobre o ataque. Para o ministro, "a barbárie bate à nossa porta, e de nossas escolas". Ele destaca a necessidade de a França "agir e golpear com força", mas  "com respeito ao Estado de Direito e à Constituição".

O jornal Libération relata as operações policiais realizadas desde o assassinato que chocou a França. Uma resposta destinada a "desestabilizar e hostilizar um movimento nocivo, que prega a superioridade das leis do Islã sobre as leis da República", de acordo com as palavras do ministro do Interior, Gérald Darmanin, citado pela reportagem.  

Esse diário também alerta para as dificuldades que o governo poderá enfrentar para a efetiva dissolução de entidades que adotam um " discurso polêmico sobre o conceito de islamofobia".

O quebra-cabeças das expulsões

Outra medida anunciada é a expulsão de cerca de 231 pessoas inscritas no sistema de alerta para a prevenção da radicalização terrorista. "Os países de origem terão de recuperar os seus cidadãos", avisa o gabinete do ministro do Interior. Segundo Darmanin, a maioria dos suspeitos será enviada para a região do Magrebe, no norte da África, e para a Rússia - no caso dos chechenos. O autor do ataque era um jovem nascido em Moscou, mas de origem chechena. Ele tinha 18 anos e foi morto pela polícia.

As expulsões de pessoas radicalizadas poderão enfrentar resistência. "Ser fichado não é prova de culpabilidade", alerta um magistrado, para quem "uma decisão arbitrária da polícia pode vir a ser contestada por organismos internacionais de direitos humanos".