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Protesto contra violência policial na Nigéria é reprimido a tiros; ONU condena ação

21/10/2020 10h48

A terça-feira (20) foi uma noite sangrenta em Lagos, capital econômica da Nigéria. Um protesto pacífico com cerca de mil pessoas, organizado para denunciar a violência policial no país, foi reprimido a tiros. Ao menos uma pessoa morreu e 25 feridos foram encaminhados a hospitais da cidade.

 

O secretário-geral da ONU (Organização das Nações Unidas), Antonio Gutierres, condenou os incidentes e pediu o fim da violência e de abusos policiais no país.

O governo havia declarado um toque de recolher na cidade para tentar evitar a continuidade de manifestações como a de terça-feira, que se repetem no país desde o início de outubro. No entanto, cerca de mil pessoas se reuniram na região do pedágio de Lekki, no estado de Lagos, na noite de terça. O protesto foi disperso com o uso de munição real.

A Anistia Internacional ainda tenta confirmar o número de vítimas dos ataques, mas afirma que houve diversas mortes.

O governador do estado de Lagos, Babajide Sanwo-Olu, indicou que houve a morte de uma pessoa e anunciou a abertura de uma investigação sobre sobre a atuação de "oficiais do Exército nigeriano mobilizados no pedágio de Lekki".

O evento está sendo chamado nas redes sociais como o Massacre de Lekki, e sendo usado para novas mobilizações.

Na manhã desta quarta-feira (21), a megalópole de Lagos, com uma população de 20 milhões de habitantes, teve vários edifícios incendiados em diferentes bairros, ruas interrompidas por bloqueios de estradas policiais ou civis.

Entre os prédios atacados, está a sede da televisão TVC, uma emissora privada conhecida por suas conexões com altos membros da política nigeriana, foi incendiada nesta manhã.

De acordo com o diretor do canal, Andrew Hanlon, "criminosos atacaram o edifício às 9h30 locais com coquetéis molotov". A televisão é considerada próxima a Bola Tinubu, político eminente do partido que governa o país.

Ao menos 15 mortos em protestos

Um vídeo postado nas redes sociais no dia 3 de outubro está na origem das semanas de protestos. As imagens mostram supostos policiais da Brigada Especial de Supressão de Roubo (Sars), uma unidade policial, atirando em um homem na cidade de Ughelli.

O vídeo gerou o testemunho de milhares de internautas sobre a violência policial. Em poucos dias, a hashtag #EndSARS (acabar com a Sars), acusada de extorsão da população, prisões ilegais, tortura e até assassinato.

No dia 8 de outubro, manifestantes foram às ruas em diversas cidades da Nigéria, mas os protestos foram duramente reprimidos. Em Ughelli, as violências causaram duas mortes.

Dois dias mais tarde, em um novo protesto, um manifestante foi baleado e morto pela polícia em Ogbomoso. No dia 11, o governo prometeu uma reforma da polícia, anunciou a criação de uma nova brigada que exige "ética", e garante que os agentes acusados ??de violência serão processados. Os manifestantes presos foram libertados.

Os anúncios, no entanto, não acalmaram os ânimos da população. Desde então, as manifestações se ampliaram em número e frequência.

A Anistia Internacional estima pelo menos 15 o número de mortos desde o início do protesto, incluindo dois policiais.

(Com informações da AFP)