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Restrição ao aborto na Polônia gera novos protestos em várias cidades do país

26/10/2020 15h35

Milhares de pessoas foram às ruas nesta segunda-feira (26) em novos protestos em defesa do direito ao aborto na Polônia. As manifestações, que bloqueiam o centro de várias cidades do país, começaram após as autoridades proibirem o aborto, inclusive em caso de má-formação do feto.

Carregando cartazes com os dizeres "vocês têm sangue nas mãos", "nós queremos poder escolher", ou ainda "é a guerra", manifestantes, principalmente jovens mulheres, desfilaram nas ruas de Varsóvia, paralisando o tráfego na capital polonesa. Protestos similares foram registrados em várias outras cidades. Manifestações também visaram igrejas no domingo, algo inédito nesse país de maioria católica.

Esse já é o quinto dia de manifestações desde que o Tribunal constitucional polonês anunciou a proibição do aborto em caso de má-formação do feto, alegando que a prática seria "incompatível" com a constituição do país. A medida foi tomada a pedido do partido ultracatólico nacionalista Direito e Justiça (PiS), que dirige a Polônia. A partir de agora, a interrupção de gravidez é possível apenas em caso de estupro, incesto e risco de morte para a mãe.

Os defensores da lei alegam que a medida impede o aborto de fetos diagnosticados com Síndrome de Down. Já os opositores afirmam que ao manter até o final as gravidezes de fetos com má-formação, a vida das mães é colocada em risco.

Polônia na contramão da Europa

Marcado por uma forte tradição católica, a Polônia é um dos países que mais restringem o acesso ao aborto. Atualmente, menos de 2 mil interrupções de gravidez legais são feitas por ano - a maior parte delas em razão de má-formação do feto. Grupos feministas calculam que anualmente mais de 200 mil polonesas realizam abortos ilegalmente dentro do país ou no exterior.

A decisão da justiça polonesa foi condenada por vários grupos de defesa dos direitos humanos na Europa, onde o aborto é feito legalmente em praticamente todos os países. Entre os 27 membros do bloco, Malta é o único a proibir totalmente a interrupção da gravidez. Até a Irlanda, conhecida por sua tradição religiosa, se tornou, em 2018, a 26ª nação europeia a legalizar o aborto. A prática também foi legalizada em outubro de 2019 na Irlanda do Norte.