"Hospital das Pandemias" de Madri é inaugurado em meio a protestos de profissionais da Saúde
Madri inaugura nesta terça-feira (1) o chamado "Hospital das Pandemias". O projeto-estrela do governo conservador da capital espanhola está cercado de polêmica e é muito criticado pela oposição e pelos profissionais da Saúde. Eles consideram que a despesa milionária da obra poderia ter sido investida nos hospitais já existentes e carentes de recursos.
Fina Iñiguez, correspondente da RFI na Espanha
O governo de Madri, sob a presidência de Isabel Díaz Ayuso, do conservador Partido Popular, anunciou oficialmente em junho que o Hospital Enfermeira Isabel Zendal, apelidado de "Hospital das Pandemias", seria inaugurado em outubro. Com mais de um mês de atraso, o conjunto hospitalar de 80 mil metros quadrados ainda está inacabado, e o custo da obra já dobrou o orçamento estimado.
Dos três pavilhões previstos inicialmente - que depois se transformaram em quatro -, inaugura-se apenas o número 2, ainda precisando de acabamentos e com 32 leitos a menos do que os 320 previstos (240 para doentes graves, 16 leitos de UTI e 32 para casos menos graves).
Para os 669 postos para os profissionais da Saúde que o governo de Madri anunciou que cobriria com inscrições voluntárias, apenas 111 pessoas se inscreveram. As 558 vagas restantes ? cinco de cada seis ? serão cobertas por profissionais de outros hospitais contratados como reforço para a Covid-19 nos últimos meses, de acordo com informações do próprio governo de Madri.
O chamado "Hospital das Pandemias", que estaria destinado apenas a pacientes com o novo coronavírus, também mudou o enfoque. O governo de Madri afirmou recentemente que terá o objetivo de aliviar as listas de espera dos hospitais madrilenhos para atender, tratar e operar também pacientes com outras doenças.
Um dos pontos mais polêmicos é o custo do projeto: estimado inicialmente em cerca de € 50 milhões, as obras já consumiram mais de € 100 milhões, sem estarem concluídas.
Protestos
Diversas associações de enfermagem e profissionais da Saúde - Associação de Enfermagem de Madri (AME), Movimento de Assembleia dos Trabalhadores da Saúde (MATS), Summat e Juntas x la Pública - convocaram passeatas durante a inauguração do "hospital pandêmico", que consideram um "fiasco".
O protesto exigiu a demissão da presidente Ayuso e denunciou possíveis transferências forçadas de profissionais da Saúde para o estabelecimento, devido à falta de pessoal no novo conjunto hospitalar.
Tanto a oposição quanto os profissionais da Saúde criticam o dinheiro investido na estrutura, argumentando que poderia ter sido melhor aproveitado em hospitais que já existem e estão carentes de recursos humanos e materiais.
Quando o "Hospital das Pandemias" estiver finalizado, o estabelecimento vai contar com a mais avançada tecnologia na área da saúde, com sistema de identificação biométrica tanto para pacientes quanto para profissionais, por meio de reconhecimento facial e impressão digital.
A infraestrutura do projeto caracteriza-se pela versatilidade. A circulação em todo o recinto foi desenhada para evitar o risco de contágio e garantir a segurança dos profissionais de saúde, o que permitirá ao Serviço de Saúde de Madri estar preparado para enfrentar não só um possível novo surto de Covid-19, mas também qualquer tipo de epidemia, emergência ou catástrofe que possa surgir no futuro em qualquer canto do país.
Avanço da pandemia na Espanha
Estudos recentes mostram que a mortalidade hospitalar pela Covid-19 caiu na Espanha durante a segunda onda. Os médicos relacionam essa diminuição no número de mortes com vários fatores, especialmente pela experiência adquirida com os pacientes e algumas mudanças nos tratamentos aplicados, embora ainda não exista um remédio específico contra o coronavírus. O que foi constatado, por outro lado, é que a hidroxicloroquina, que Donald Trump e Jair Bolsonaro defendiam e foi muito usada, é ineficaz.
De acordo com dados de 30 de novembro, o número total de contagiados na Espanha desde o início da pandemia é de 1.648.187, e o país registrou 45.069 mortes por Covid. Desde sexta-feira passada, o número de contaminados chegou a 19.979 e 943 pacientes morreram na última semana em decorrência da infecção viral.
Medidas de controle e estado de alarme
O aumento de surtos de coronavírus em algumas áreas da Espanha obrigaram à adoção de medidas de controle, que foram se intensificando nas últimas semanas ao passo que o número de casos aumentava.
O "estado de alarme", que tinha sido levantado em junho, foi estendido até maio do ano que vem, embora não seja tão estrito como o anterior. Quase todos os governos regionais decretaram os chamados "confinamentos perimetrais", ou o isolamento das cidades, para limitar ao máximo a mobilidade da população. O toque de recolher noturno também foi adotado na maioria das regiões.
O uso da máscara é obrigatório em todo o país, mesmo mantendo o distanciamento social, tanto em ambientes fechados como ao ar livre.
Na Catalunha, a proibição de transitar entre cidades deve terminar no próximo final de semana, se os dados não piorarem, mas o toque de recolher se mantém entre 22h e 6h da manhã e poderia permanecer vigente durante mais dois ou três meses. O objetivo é evitar que haja uma terceira onda depois das festas de Natal e Ano Novo.
No que se refere às fronteiras internacionais, a Espanha passou a exigir teste PCR negativo feito 72 horas antes de viajar às pessoas que chegam de países considerados de risco. Uma lista de países, da qual o Brasil faz parte, é revista a cada 15 dias em função da evolução da situação epidemiológica. Quem chegar aos aeroportos e portos espanhóis sem fazer o teste obrigatório pode pagar uma multa de até € 6:000.
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